Se uma organização familiar tem, por inerência natural, pessoas da Família proprietária a liderar o negócio ou a trabalhar no conjunto dos seus colaboradores, nem sempre se pode assegurar que todos os proprietários, atuais ou futuros, acompanhem devidamente a sua evolução.
Não se espera que todos os membros saibam tudo o que se passa no dia a dia da sociedade, mas se existe algo de muito positivo, é encontrar um ponto de envolvimento mínimo que permita aos principais e mais influentes sócios:
- analisarem a atividade passada da empresa e o porquê dos resultados alcançados;
- interpretarem e debaterem o contexto específico da organização e tirarem conclusões sobre o seu impacto na vida da sociedade;
- definirem metas realistas e datas para o seu alcance;
- apresentarem à gestão da empresa uma única e uníssona posição.
Pela natureza e forma de tratamento dos assuntos, não é tradicionalmente a assembleia de sócios o local mais apropriado para esta dinâmica. Muitas organizações familiares encontraram soluções bem distintas e que vão desde grupos muito informais: conselho de sócios ou proprietários, a órgãos formais e com responsabilidades bem definidas e públicas: conselhos superiores ou estratégicos.
Em junho de 2014, em pleno período de convulsão no seio do grupo e da Família Espírito Santo e após um acordo da saída dos seus membros da administração executiva do BES, uma das soluções desenhadas passava pela criação de um Conselho Estratégico.
O novo órgão, criado para integrar os representantes da Família Espírito Santo que o Banco de Portugal tinha afastado dos órgãos sociais, teria a missão de dar parecer não vinculativo sobre a “aprovação do plano estratégico trianual”; “emitir parecer sobre os relatórios e contas“; aquisições e alienações” de valor equivalente ou superior a 5% do capital social do banco; “parcerias com outras instituições financeiras e não financeiras a realizar a nível nacional e internacional”; “abertura ou encerramento de filiais”, “alterações no perímetro das atividades do banco e suas participadas”, “estratégia de utilização do nome ou marca Espírito Santo” e “alterações ao contrato da sociedade que carecem de autorização prévia do Banco de Portugal”.
Este novo modelo de governo implicaria uma alteração de estatutos, pelo que esteve previsto submeter à Assembleia Geral propostas como:
- “o mandato dos membros do conselho estratégico é coincidente com o do conselho de administração, terminando com este, mesmo que a eleição dos respetivos membros ocorra em momento posterior”.
- “compete à AG ou à comissão de vencimentos, caso exista, fixar a remuneração dos membros do conselho estratégico”.
- a missão do conselho estratégico será “assistir o conselho de administração no acompanhamento da atividade” do banco. Além disso, “sem prejuízo das competências próprias dos órgãos de administração e fiscalização”.
Temas para reflexão:
- Como envolvemos os proprietários não trabalhadores nas principais decisões da empresa?
- Com que frequência incentivamos a ocorrência de reuniões dos principais sócios?
- Fornecemos informação útil e de forma atempada para obter uma participação efetiva?
CEO da efconsulting e docente do ensino superior.
Especialista na elaboração de Protocolos Familiares, Planos de Sucessão, Órgãos de Governo, acompanhando numerosas Empresas e Famílias Empresárias.
Orador em seminários, conferências e autor de livros e centenas de artigos relacionados com Empresas Familiares.