Como é que uma pessoa muito rica educa os seus filhos?
Kevin O’Leary, o canadiano “Mr Wonderful” do programa shark tank, numa entrevista no impauls!ve – the world’s greatest, most thought-provoking, mentally stimulating podcast in the history of mankind… hosted by a bunch of idiots – conta a sua história e dá uma excelente resposta.
Quando concluiu a universidade, a mãe disse-lhe que tinha duas notícias:
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- ia à cerimónia de graduação e
- “no more checks“.
Kevin perguntou-lhe o significado disso, já que lhe pagara a faculdade, as rendas, … ao que ela lhe respondeu:
“The dead bird under the nest never learned how to fly“.
(O pássaro morto debaixo do ninho nunca aprendeu a voar).
Quando Kevin vendeu a empresa de que foi co-fundador (SoftKey Software Products, uma empresa de tecnologia que vendia software de educação e entretenimento familiar, adquirida pela Mattel em 1999 … e que o despediu) por $4.2 mil milhões, foi ter com os advogados e disse desejar um trust fund que assegurasse todos os custos até ao final da formação universitária dos 2 dois filhos (na altura com 4 e 6 anos!) e, depois disso, nada mais; ou seja, aplicaria a mesma estratégia da mãe.
Mais tarde, quando o filho mais velho já estava no liceu e com um péssimo desempenho, este questionou o pai quanto ao seu trust fund , pois os amigos falaram dos deles e ele não sabia qual era a sua situação.
Kevin disse-lhe que se ele e a mãe fossem atropelados por um camião o fundo somente lhe pagaria os custos até concluir a universidade, … ou a escola, já que parecia que ele não iria para a faculdade.
Incrédulo, o filho perguntou-lhe o que isso significava, tendo obtido como resposta:
“no more checks, the dead bird under the nest never learned how to fly”.
What the f*** those that means? (O que é que isso significa?), replicou o filho…
A mensagem surtiu efeito, pois, ao compreender o que o futuro lhe destinava … (o vídeo tem 5min e merece ser visualizado, desfrute do mesmo).
Esta história reflete o sentimento de muitos empresários líderes de empresas familiares, ao desejarem que os seus filhos tenham uma excelente formação – muitas vezes aquela que eles não tiveram oportunidade de ter – à qual esperam que se dediquem e depois a apliquem no desenvolvimento da empresa familiar.
As gerações mais novas são assim confrontadas com a possibilidade de adquirirem uma vantagem comparativa (pelo menos na ideia dos pais) e:
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- uns não aproveitam e desejam ir logo trabalhar para a empresa: trocam os conhecimentos científicos pelos mais empíricos;
- outros entram na faculdade e … tardam a concluir o curso: estudar é melhor do que trabalhar;
- uma parte acaba a formação e ingressa de imediato na empresa da família: dedicam-se ao mundo da empresa sem vivenciarem outro mundo;
- outra parte dos graduados procura alternativas em outras entidades: mais tarde, juntar-se-ão à empresa familiar ou, então, nunca chegarão a trabalhar na mesma, mas serão pessoas profissionalmente autónomas.
Existem muitas alternativas disponibilizadas aos filhos dos empresários, contudo, parece que o desconforto pela incerteza é um enorme motor de energia para os auxiliar a escolher a melhor via para se transformarem em adultos motivados e responsáveis pelo seu desenvolvimento e desempenho profissional, venham eles a ser aplicados no seio da empresa familiar ou em qualquer outra entidade.
Uma coisa parece óbvia: diga-me como preparou os seus filhos e dir-lhe-ei que sucessores (na gestão ou na propriedade) vai ter.
O papel e a decisão dos pais nunca será fácil, mas, quando confrontados com a situação, devem pensar o que desejam para os filhos: um pássaro que saiba voar ou que sucumba debaixo do ninho?
CEO da efconsulting e docente do ensino superior.
Especialista na elaboração de Protocolos Familiares, Planos de Sucessão, Órgãos de Governo, acompanhando numerosas Empresas e Famílias Empresárias.
Orador em seminários, conferências e autor de livros e centenas de artigos relacionados com Empresas Familiares.