Ao facilitar a atração e a manutenção dos laços com os distintos stakeholders, a confiança é o “campo magnético” que assegura a sustentabilidade do ecossistema que é a empresa familiar e a família empresária®.

Por outro lado, quando um dos elementos do sistema perde essa mesma confiança, inverte-se o sentido do campo magnético, criando uma onda de repulsa que é difícil e exige muita energia para inverter.

Assim, é crucial perceber como os stakeholders consideram que uma entidade pode ser confiável.

O Poder da Confiança

Sandra J. Sucher, professora de gestão na Harvard Business School e a escritora Shalene Gupta, são as autoras do livro The Power of Trust: How Companies Build It, Lose It, Regain It, onde analisam o impacto económico da confiança e concluem que a mesma é construída de dentro para fora da organização; ou seja, “é quase impossível imaginar que uma empresa possa ter a confiança dos seus clientes se não tiver a confiança dos seus empregados.” (1).

A confiança surge de uma empresa ter todas as qualidades (‘real deal’): criar produtos e serviços que funcionem, ter boas intenções, tratar as pessoas de maneira justa e assumir a responsabilidade por todos os impactos que cria, intencionalmente ou não.” Sandra J. Sucher (2)

O estudo Transformar para construir confiança

Para avaliar se as empresas familiares estão a fazer as coisas certas, no mundo de hoje, para construir confiança, o estudo “PwC’s 11th Global Family Business Survey Transform to build trust” (Transformar para construir confiança) – que envolveu 2.043 proprietários de empresas familiares em 82 territórios – baseou-se no modelo, desenvolvido pelas autoras do livro, que salienta que a confiança se suporta em 4 pilares:

  1. competência: a empresa é boa naquilo que faz?
  2. motivo: que interesses a empresa serve?
  3. meios: a empresa usa meios justos para atingir os seus objetivos?
  4. impacto tangível: o que a empresa tem vs afirma ter?

 

As respostas, dos entrevistados, às perguntas com base nestes 4 suportes revelam:

  • uma desconexão entre as visões tradicionais sobre confiança e o seu impacto na forma como as empresas familiares funcionam na atualidade,
  • onde e como os negócios familiares necessitarão de se transformar para garantir o legado;

 

e destacam as lacunas existentes entre o que é identificado como a necessidade de confiança e a sua realidade, em dois importantes stakeholders: clientes (44%) e empregados (49%) (3).

 

 

 

 

 

 

 

 

O estudo apresenta ainda informações interessantes de como conciliar a família com os negócios e as emoções com o empreendedorismo, salientando:

  • a necessidade de trabalhar em estreita colaboração com as novas gerações de futuros proprietários e estabelecer estruturas e práticas de governança familiar para profissionalizar a empresa familiar e auxiliar a enfrentar e a ultrapassar potenciais conflitos
  • a importância de reacender a confiança com stakeholders externos e funcionários, ao falar sobre propósito e valores, compromisso com ESG e responsabilidade.

Um Exemplo – Grupo Luis Simões

Em Portugal existem fabulosos exemplos de famílias empresárias® que promovem a continuidade do seu legado e inspiram confiança. De entre elas destaco a Família Simões.

No relatório de Sustentabilidade e Contas de 2022, José Luis Simões, presidente do Conselho de Administração do Grupo Luis Simões, salienta:

Somos uma empresa familiar, o legado que deixamos é a forma como contribuímos positivamente na cadeia de valor, considerando que a eficiência é a palavra de ordem, mas tendo em mente que a nossa força são as pessoas.
É na interceção deste caminho que nos leva a crescer, mantendo o foco da eficiência, e da qualidade do serviço a prestar, garantindo os requisitos necessários e assegurando a segurança das pessoas e os postos de trabalho.”

A Continuidade

Um conselho: quem está ligado a empresas familiares ou é membro de uma família empresária deve consultar este estudo.

Uma síntese: a confiança é vulnerabilidade, é multidimensional e, se for perdida, pode ser recuperada.

Explorar este assunto da confiança: assistir ao vídeo da profª Sandra Sucher numa apresentação para o Institute of Business Ethics.

 

Fontes:

(1) https://www.mckinsey.com/featured-insights/mckinsey-on-books/author-talks-sandra-j-sucher-on- the-power-of-trust

(2) https://www.hbs.edu/faculty/Pages/item.aspx?num=59637

(3) PwC’s 11th Global Family Business Survey, Transform to build trust, https://www.pwc.com/gx/en/services/family-business/family-business-survey.html

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