A continuidade duma empresa está intimamente associada a sua visão – o sonho ou aspirações futuras que os líderes possuem para a organização, e à sua estratégia – meios a que recorrerá, ou forma de rentabilizar os recursos investidos, para alcançar esse sucesso no futuro.
Numa sociedade familiar, a visão é do sonho da Família que, normalmente, se suporta no peso histórico das gerações mais antigas e vai evoluindo ao longo dos tempos com a influência dos novos elementos. Acaba por ser o grande fio condutor e de coesão das diversas gerações.
A estratégia adotada pela administração, seja ela assegurada por exclusivamente por familiares ou constituída também por elementos independentes, atende ou é delimitada pelas vontades oriundas da família empresária.
Neste contexto, de significativa influência da Família que controla a organização, assumem expressiva relevância três grandes aspetos:
- Um associado à forma como a Família atua a uma só voz, como se se tratasse de uma entidade única, para a definição clara da sua visão e caminho de implementação;
- O outro ligado à seleção, por parte da equipa de gestão, das possíveis e distintas estratégias que consideram ser as mais ajustadas para a condução do negócio;
- E o último expresso pela capacidade de comunicação e negociação entre estas duas entidades, de forma a não defraudar as expectativas da primeira, nem a permitir desresponsabilizar os líderes pelo não alcance dos objetivos, escudando-se em potenciais restrições de atuação.
José Pinto Basto, em 1824, funda em Ílhavo a Fábrica de Porcelanas da Vista Alegre. Tendo tido 15 filhos, a sua descendência, como mais ou menos desencontros, conseguiu manter a empresa sob o seu domínio até inícios de 1990: um grupo constituído por três ramos familiares detinha cerca de 60% do grupo.
Nessa década de 90, este conjunto de primos define uma estratégia que passa pela fusão da empresa com a Cerexport, também empresa familiar. O grupo de primos minoritários, sentindo-se lesado, envereda por uma batalha jurídica que vai adiando a operação de fusão.
Este impasse de vários anos faz com que a companhia entre numa letargia e comece a definhar.
Para tentar ultrapassar o conflito, em 1997 os principais acionistas chegam a um acordo que passaria por venderem as suas posições a um deles, pela melhor oferta.
À data a sociedade tinha como presidente Bernardo Souza que em associação com Luiz Coutinho passam a controlar a empresa sociedade que detinha a posição maioritária da Vista Alegre.
Nesse ano concretiza-se a fusão com a Cerexport e, em 2001, com a Vista Alegre. Como os negócios continuavam a cair, a família Pinto Basto tenta evitar o seu colapso alienando a empresa ao grupo Visabeira em 2009.
Os novos acionistas, no decurso de 2014, estão desenvolver um projeto turístico inovador, integrado e de elevada qualidade, que envolve três eixos distintos: construção de hotel, recuperação da capela setecentista de Nossa Senhora da Penha de França, Padroeira da VAA, e requalificação e ampliação do Museu da Vista Alegre. Este conjunto solidificará o reconhecimento do património da Vista Alegre como um marcante ícone da indústria da cerâmica nacional.
Temas para reflexão:
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Temos a nossa visão e estratégia bem definida e por escrito?
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Os principais acionistas conhecem, estão de acordo e dão suporte à sua implementação?
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Que processo devemos seguir para manter viva esta união de objetivos de longo prazo?
CEO da efconsulting e docente do ensino superior.
Especialista na elaboração de Protocolos Familiares, Planos de Sucessão, Órgãos de Governo, acompanhando numerosas Empresas e Famílias Empresárias.
Orador em seminários, conferências e autor de livros e centenas de artigos relacionados com Empresas Familiares.