Se a um negócio familiar estiverem associados elementos que possuam laços de irmandade familiar – sejam eles consanguíneos ou, em sentido mais lato, não consanguíneos (isto é cunhados ou equiparados) – mais cedo ou mais tarde irão surgir situações que devem ser bem ponderadas e geridas. Para simplificar focaremos um exemplo de duas grandes categorias destas ocorrências: associadas ao património e ligadas às funções.
Atualmente e no contexto dos países europeus mais ocidentalizados, a família é por natureza equitativa: quando os progenitores considerarem oportuno distribuir ou alocar uma parte dos recursos, desenvolverão todos os esforços para o fazer de forma igualitária.
Se os recursos forem liquidez ou participações em empresas, é fácil concretizá-lo. Assim, há quem pretenda dar uma quota de 50% de cada empresa a cada um dos seus dois filhos, obrigando-os a entenderem-se na sua tomada de decisões, e quem opte por dar uma empresa a cada um dos filhos (independentemente de alguma necessidade compensatória para justiça de divisão) dando a possibilidade de cada um seguir o seu caminho.
No que concerne às funções, o princípio da equivalência já é de difícil alcance. Se por um lado, teoricamente, qualquer um “sabe ser acionista”, o que nem sempre é verdade, já ser um quadro especializado ou gestor da empresa deve-se pautar por critérios de competência, sob pena de sofrer a empresa, os seus donos e, muitas vezes esquecido, a própria pessoa que não esteja apta a assumir essa responsabilidade.
Torna-se então muito relevante uma ponderação e preparação cuidada, para que cada um venha a assumir, ou não, de forma consciente os distintos e possíveis papéis de possíveis personagens típicas das Empresas Familiares.
Os três irmãos filhos de Ana Pereira e Salvador Caetano: Maria Angelina, Salvador Acácio e Ana Maria, assumem-se como empresários que dão continuidade ao grupo fundado pelos pais, apesar de não o fazerem de forma conjunta.
Ao longo da sua vida profissional o empresário teve a preocupação de descentralizar a gestão dos negócios: a Baviera (BMW) era conduzida pelo filho; a filha mais velha, Angelina e o seu marido José Ramos, colaboravam nos restantes negócios.
A divisão do grupo começou a ser desenhada na 1ª década do séc. XXI, quando o fundador já estava afastado da gestão ativa do mesmo, e foi efetivada cerca de um ano antes do seu desaparecimento (em junho de 2011). À data a fortuna de da família Caetano estava avaliada em mais de 600 milhões de Euros, agrupando cerca de 150 empresas e mais de 6.800 trabalhadores.
A empresa Grupo Salvador Caetano SGPS, em Vila Nova de Gaia, passou a ser controlada, em partes iguais, pelos dois irmãos mais velhos, Angelina e Salvador. Ana Maria Caetano, a filha mais nova e a residir em Lisboa, ficou com a unidade industrial do Carregado, a Caetano Coatings, que produz componentes para automóveis e pintura industrial, com a participação de 11% na construtora Soares da Costa e ainda uma parte em dinheiro.
Esta separação permitiu uma evolução distinta, sem criar rivalidade entre irmãos e certamente garantindo uma paz familiar que, provavelmente, outra solução poderia não assegurar.
Temas para reflexão:
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Já começamos a planear o futuro do nosso património empresarial?
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Estamos preparados para manter o património familiar em conjunto?
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Se o ideal é optar por uma separação, como a vamos concretizar?
CEO da efconsulting e docente do ensino superior.
Especialista na elaboração de Protocolos Familiares, Planos de Sucessão, Órgãos de Governo, acompanhando numerosas Empresas e Famílias Empresárias.
Orador em seminários, conferências e autor de livros e centenas de artigos relacionados com Empresas Familiares.