Pode a empresa familiar recorrer a um líder externo? Sim.

A opção por alguém que não seja membro da família também pode acontecer. A família proprietária do negócio, sentindo que não possui ninguém com as competências necessárias para liderar a empresa, decide entregar o seu projeto nas mãos de um profissional que ofereça garantias de boa gestão e crescimento.

Tal situação verificou-se na Topázio, uma marca pertencente à Ferreira Marques & Irmão, uma empresa histórica nortenha, que leva já mais de 140 anos de tradição na arte de trabalhar ouro e prata. À entrada no século XXI, a empresa começou a deparar-se com dificuldades e o seu volume de negócios, entre 2000 e 2013, apresentou quebras na ordem dos 83%, fixando-se em 2,5 milhões de euros.

Os donos da empresa consideraram que, após um ciclo de quebra de vendas e ajuste orgânico, o futuro do negócio deveria ser assegurado por profissionais externos e independentes, o que culminou na nomeação, no final de 2012, de um conselho de administração independente, liderado por Rosário Pinto Correia.

Administradores e acionistas definiram uma série de regras de relacionamento e colocaram em marcha um plano para revitalizar a empresa que passou, entre outras coisas, por uma renovação da marca, diversificação dos canais de venda e alteração da estrutura de preços. A aposta tem dado frutos e no ano passado a empresa aumentou as suas vendas em 20%.

E o que traduz uma boa gestão?

Definimos a boa gestão como a procura de uma ótima harmonia entre a competência profissional dos diretores e um adequado funcionamento dos órgãos de gestão da empresa, que permitirá extrair a quinta-essência dos trabalhadores”, explica António Nogueira da Costa, sócio fundador da efconsulting em Portugal.

Para este consultor, que já implementou múltiplos processos de protocolo familiar em empresas de distintas dimensões e áreas de atividade, é fundamental ser capaz de “rever a qualidade da gestão da administração da empresa”, sendo que o passo seguinte deverá passar por “fazer os ajustes necessários para conseguir melhorias significativas”.

Embarcando numa metáfora, “pensemos num barco onde o patrão da pesca, além das suas atribuições diretas, dedica parte do seu tempo a trabalhar na sala de máquinas. Do mesmo modo, o mecânico passa metade do seu dia na ponte. Parece evidente que as coisas não podem funcionar como deveriam, nem que se esteja perante o melhor patrão de pesca de todo o litoral e o mais prestigiado mecânico naval”, aponta António Nogueira da Costa.

Neste sentido, há quatro questões preponderantes:

  • Quem são os diretores-chave?
  • Quais são os seus pontos fortes?
  • E os pontos débeis?
  • Qual a avaliação que faço deles?

 

Estas questões, assegura o especialista, “giram em torno da administração e das chefias e, no fundo, pretendem perceber se cada um deles, individualmente, é capaz de cumprir com as responsabilidades que lhe foram atribuídas”. Mediante as respostas obtidas, a pergunta que se impõe aos líderes é: “como gostaria que a sua empresa estivesse?”

De um fio de ouro se fizeram 140 anos de história

As origens da Topázio remontam ao longínquo ano de 1874. Tudo terá começado, segundo rezam as crónicas, quando Manuel José Ferreira Marques pediu à mulher o fio de ouro que trazia ao pescoço, o derreteu e transformou na primeira peça criada pela sua empresa.

Manuel abriu uma oficina na Rua do Heroísmo, no Porto. E foi assim que a Ferreira Marques & Irmão começou a desenvolver peças de ouro artesanais, passando também a trabalhar manualmente em peças de prata a partir da década 20. Com o saber acumulado na área dos materiais nobres, a empresa passou a proceder ao registo de peças exclusivas de ouro e prata na década seguinte.

A morte do fundador ocorreu em 1930, mas ainda hoje os valores implementados por este são praticados e vividos no seio da empresa. Poucos anos depois, em 1934, é criada a Topázio, que ganhou fama com novos desenhos e, sobretudo, com criações antigas de filigranas clássicas. Rapidamente se transformou numa marca conceituada de obras de ourivesaria artesanal e, nos anos 70, para além de deixar a sua arte em peças de ouro e prata do mais fino recorte, passou também a oferecer soluções mais económicas em banho de prata.

Vende em mais de 20 países

Com 140 anos de vida, a Topázio está hoje em Gondomar e tem capacidade para produzir cerca de 30 mil peças por ano. O processo artesanal continua a ser regra da casa, sendo que a empresa se especializou em objetos de prata e banho de prata, com uma oferta que contempla mais de 70 mil referências e produções personalizadas, das quais até o multimilionário Roman Abramovich já foi cliente.

Presente em mais de 20 países, onde se incluem mercados como Inglaterra, França, Alemanha, Rússia ou EUA, as peças da empresa constam no protocolo do Estado Português e respetivas embaixadas, através de ofertas e decoração dos espaços. No ano passado, e mesmo depois de ter sido afetada por um incêndio na sua fábrica, a empresa portuguesa de pratas conseguiu recompor o ritmo de produção e faturar 3,2 milhões de euros, o que representa um crescimento de 20,5% face ao ano anterior.

 

Publicado no “Especial Empresas Familiares” do Jornal de Notícias de 2014/07/06 integrado no âmbito da conferência “A Sucessão da Liderança na Empresa Familiar”

 

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