As organizações existem enquanto entidades que possuem uma visão (o sonho), uma missão (a via para alcançar esse grande objetivo) e uns valores que balizam e suportam as suas ações.
Aplicando de uma forma muito simples a duas distintas empresas que há vários anos se dedicam à restauração, em que ambas possuem como fim último desenvolver e sustentar o seu negócio satisfazendo os seus clientes e proporcionando retornos para os seus sócios, e caricaturando dois possíveis comportamentos suportados em distintos valores, poderíamos distingui-las na medida em que:
- A empresa X, cujos sócios foram educados numa família que incentivava o respeito pelos outros e a honestidade de atuação, dinamiza o seu negócio suportada em boas práticas de comércio, comprando ingredientes, cozinhando, saciando os seus clientes, a quem faturam de forma detalhada e cobram os valores associados ao real serviço prestado.
- A empresa Z, cujos sócios foram educados numa envolvente que incentivava a sobrevivência aproveitando-se dos bens de terceiros, dinamiza o seu negócio suportada em práticas de comércio que passam por obter ingredientes distintos dos anunciados (“gato em vez de lebre”) cozinhando e saciando os seus clientes, a quem cobram os valores finais expectáveis (com alguns elementos a mais “por distração ou erro” … com ou sem fatura) ao real serviço prestado.
Estando os dois negócios ativos, poderia dizer-se que ambas as entidades alcançam de forma igualitária os seus objetivos alvo, mas certamente que os seus modos antagónicos de atuação mais cedo ou mais tarde irão refletir-se na sua continuidade futura.
Rosa Dias é uma empresária algarvia que está a recuperar a quinta que a família tem em Castro Marim há sete gerações: a Quinta da Fornalha é um projeto piloto de sustentabilidade, gerido por uma pequena empresa familiar, que desenvolve uma série de atividades ligadas ao meio envolvente de modo a criar uma economia sustentável, baseada na utilização dos recursos disponíveis assim como no respeito e manutenção dos ecossistemas e tradições culturais existentes.
Rosa Dias apercebeu-se que o valor dos frutos por transformar não permitia obter rendimento que tornasse a quinta viável, pelo que, inspirada nas recordações e valores incutidos durante a infância, o respeito pela herança cultural e o gosto pelo trabalho agrícola, a empresária criou um modelo empresarial alternativo sustentável para dar viabilidade à quinta, com agricultura biológica certificada há 20 anos, e sem destruir os pomares plantados pelos seus antepassados.
“Chegar aqui a esta quinta e dizer: ‘as alfarrobas não têm propriamente uma rentabilidade interessante’ e substituí-las por frutinhos vermelhos era imaginar o meu avô às voltas na tumba”.
São 36 hectares de fruticultura biológica mediterrânea, com variadas edificações para habitação, outras para transformação, comércio e outros serviços como restauração, variados jardins comestíveis, hortas biológicas experimentais para consumo próprio, caminhos de ervas aromáticas, elementos de prevenção da erosão e uma forma distinta de desfrutar e desenvolver um negócio.
Temas para reflexão:
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Quais são os principais valores da Família?
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Estes princípios estruturais estão refletidos e guiam a atuação da empresa?
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Como potenciar os valores na sustentabilidade do negócio
CEO da efconsulting e docente do ensino superior.
Especialista na elaboração de Protocolos Familiares, Planos de Sucessão, Órgãos de Governo, acompanhando numerosas Empresas e Famílias Empresárias.
Orador em seminários, conferências e autor de livros e centenas de artigos relacionados com Empresas Familiares.