O sucesso de uma empresa familiar vive muito da energia depositada pelo seu fundador. É ele que institui os objetivos, valores e linhas de orientação do negócio, transformando o sonho em realidade. O desenvolvimento da empresa passa pelo mentor, que dirige e participa em todas as tomadas de decisões, envolve-se nas atividades e coordena as operações. Mas também chega a altura em que o líder deve descentralizar o poder e delegar responsabilidades.
À medida que a empresa cresce, começam a faltar horas ao empresário familiar para poder ligar a tudo o que se passa à sua volta. “Com o tempo, o fundador acaba por correr o risco de ocupar parte do tempo em tarefas de menor importância e isso converte-se, em certas situações, num importante ponto de engarrafamento para a expansão da empresa”, refere António Nogueira da Costa, sócio fundador da EFConsulting em Portugal.
No entender do especialista, centrar as responsabilidades apenas no chefe máximo, limita as operações do próprio negócio. “Se nada for feito chegará o dia em que o empresário não estará na empresa e a organização perderá a sua principal fonte impulsionadora e, nesta situação, os colaboradores não vão saber fazer as coisas, tal como uma criança excessivamente protegida pelos pais que um dia tem de caminhar sozinha e fica indefesa sem saber o que fazer”, afirma.
Para tal há que adaptar a organização às novas necessidades, preparando-a para enfrentar desafios, ao mesmo tempo que se desliga progressivamente da necessidade absoluta da presença do empresário fundador na gestão. “Isso permite que ele próprio e a restante propriedade mantenham um elevado nível de controlo e supervisão sobre o andamento do negócio”, sublinha António Nogueira da Costa.
O trabalho passa assim por duas frentes: “em termos estruturais, desenhando e colocando em prática as instituições de administração que englobam desde o Conselho de Administração (CA) até ao primeiro nível imediatamente inferior à direção-geral; e em termos de gerência, elaborando e executando um programa de direção por objetivo a partir do Plano Estratégico de Negócio da Empresa”.
De acordo com o sócio da EFConsulting, através da presidência do CA, “o fundador poderá continuar a impulsionar a empresa, ao mesmo tempo que outros colaboradores resolvem os problemas do dia-a-dia. E será este modelo de direção por objetivos a ferramenta que permite relacionar a visão e orientação de futuro do fundador com a gestão diária da empresa”.
Desta forma é possível continuar a aproveitar ao máximo os contributos do empresário e a sua mudança de papel beneficia ainda a empresa para enfrentar a sucessão à geração seguinte. Mas esta é uma etapa que só será bem-sucedida se for cumprida uma outra antes: saber delegar funções e ter as regras bem estabelecidas no que respeita à administração.
Publicado em http://empresasfamiliares.jn.pt 2015/11/26, integrado no âmbito da conferência“Modelos de bom governo da Empresa Familiar”, de que a efconsulting é coorganizadora
CEO da efconsulting e docente do ensino superior.
Especialista na elaboração de Protocolos Familiares, Planos de Sucessão, Órgãos de Governo, acompanhando numerosas Empresas e Famílias Empresárias.
Orador em seminários, conferências e autor de livros e centenas de artigos relacionados com Empresas Familiares.