“Bom governo deve manter foco no cliente e cuidar da evolução genética da empresa”
O Auditório da Coimbra Business School será o palco, esta quinta-feira (26/11/2015), da quarta conferência do ciclo “Empresas Familiares”, organizado por JN, TSF e EFConsulting, em parceria com a Citroën.
Este evento na cidade dos estudantes terá como tema “Modelos de bom governo de empresa familiar” e conta com Francisco Negreira del Río como orador principal.
O presidente executivo da Galuresa, um negócio familiar sedeado em Santiago de Compostela dedicado à distribuição de combustíveis e gás, é também consultor de famílias empresárias, docente universitário e autor de várias publicações, uma das quais o livro “O Bom Governo da PME Familiar”. No entender deste especialista espanhol, a empresa familiar deve saber adaptar-se às mudanças, porque embora seja fácil de “desenhar no papel”, o processo de implementação de uma boa governação orientada para o cliente é complexo e exige que a família coloque os interesses da empresa à frente dos seus.
Como define o bom governo numa empresa familiar?
É o conjunto de estruturas, relações, padrões culturais e compromissos pessoais que permitem que a empresa possa mudar e evoluir a sua oferta de valor de acordo com as necessidades dos clientes, permitindo simultaneamente que a organização também evolua e se adapte às mudanças que ocorrem ao longo do tempo e do seu crescimento. Finalmente, um bom governo numa empresa familiar deve “proteger” o negócio dos conflitos inevitáveis que ocorrem na família, como resultado do seu próprio desenvolvimento e das mudanças geracionais, que criam alterações nos retornos esperados e projetos vitais.
Quais os principais obstáculos que impedem os negócios de família de terem um bom governo?
Os principais obstáculos decorrem da resistência às mudanças que têm todas as organizações. Porque os clientes e os mercados mudam, a empresa cresce e requer uma prática de gestão diferente, adequada à fase em que se encontra, e a família também tem alterações. A boa governação é fácil de “desenhar no papel”, mas a sua implementação plena e efetiva é complexa, precisamente porque envolve mudanças (imediatas ou a curto prazo) e afeta as pessoas. Outro grande obstáculo surge precisamente pela condição de empresa familiar. Em muitas ocasiões, a família coloca os interesses à frente dos da empresa e isso significa relegar para segundo plano as estruturas de governo que deveriam garantir que isso não acontecesse.
Qual é a diferença entre um bom governo e uma boa gestão?
A diferença é clara. Enquanto a gestão se ocupa dos resultados a curto prazo e da eficiência nas operações, o governo deve cuidar da evolução genética da empresa para ir de encontro a um cliente que está a mudar e a mover a um ritmo cada vez mais rápido. É muito importante manter as duas coisas separadas, porque esta evolução genética implicará, em muitas ocasiões, ter de deixar para trás coisas que criámos no passado. E não podemos pedir aos gestores que carreguem a responsabilidade de destruir para construir coisas novas, especialmente no que respeita às pessoas, onde os gestores acabam por ser, em parte, emocionalmente reféns de um conjunto complexo de relações humanas. É importante estar ciente de que para os gestores é muito difícil manter o foco no cliente, esta é a responsabilidade do governo.
Em que medida a miopia interna pode fazer com que um bom governo seja sinónimo de a empresa existir maioritariamente para servir a família?
Acredito que seja um problema anterior. É absolutamente necessário que a família assuma que é ela quem tem que servir a empresa e não o contrário. Somente a partir deste ponto de partida, seremos capazes de ter um bom governo, em termos exclusivamente profissionais e orientados para o cliente.
Considera que as empresas familiares têm mais dificuldade que as restantes em manter uma orientação focada quer no cliente como no acionista?
Sem dúvida, o papel que os acionistas têm nas empresas familiares, em muitas ocasiões marcado por uma maior participação no futuro da empresa, infelizmente leva por vezes a colocar os interesses pessoais e/ou familiares à frente dos interesses dos clientes. Podemos dizer, em tom de brincadeira, mas também sério, que os acionistas das empresas familiares mandam e muito…
A que órgãos da empresa familiar compete planificar e concretizar os modelos de bom governo?
Compete ao Conselho de Administração propor as medidas concretas e o desenho dos órgãos que formam a estrutura de governo, baseado numa discussão prévia com os acionistas, em que se fixam as regras fundamentais (por exemplo, de colocar a empresa à frente da família) e numa discussão posterior, onde se avaliem as mudanças propostas. A comunicação e participação de todos os membros da família é crucial para que a posterior adopção do modelo proposto forneça as bases de um governo estável, forte e orientado para o cliente. Mas o envolvimento dos membros da família deve ser canalizado para uma discussão ordenada e é normal que seja o Conselho de Administração o órgão com mais capacidade para o fazer e para servir de ponte entre a família e o futuro da empresa.
Publicado em http://empresasfamiliares.jn.pt 2015/11/26, integrado no âmbito da conferência“Modelos de bom governo da Empresa Familiar”, de que a efconsulting é coorganizadora
CEO da efconsulting e docente do ensino superior.
Especialista na elaboração de Protocolos Familiares, Planos de Sucessão, Órgãos de Governo, acompanhando numerosas Empresas e Famílias Empresárias.
Orador em seminários, conferências e autor de livros e centenas de artigos relacionados com Empresas Familiares.