As sociedades de irmãos, em primeira ou segunda geração, enfrentam desafios que podem ser tipificados e comuns à sua maioria.
Nas empresas familiares, os acordos estabelecidos hoje, sobre quem manda e quem será mandado, sem dúvidas evitam os desacordos de amanhã, pois a harmonia entre os membros de uma família empresária está diretamente ligada aos acertos na tomada de decisões.
Dessa forma, a sociedade entre irmãos não pode ser estabelecida na informalidade. Na maioria dos casos, os sócios querem solucionar os problemas, mas não querem saber as causas. Por isso, é importante refletir sobre a criação e/ou manutenção da sociedade:
- Vocês querem continuar sendo sócios?
- Como vocês se imaginam como sócios?
- Vocês são sócios porque eram sucessores, irmãos ou não tiveram outra oportunidade de trabalho?
Algumas práticas são fundamentais para que a sociedade, assim como a empresa, se perpetue:
- Comunicação. TEM?
- Prestação de contas. FAZEM?
- Resolução dos conflitos. FAZEM?
- Regras para trabalhar em sociedade. TEM?
Se as respostas acima não são positivas, por que continuam sócios?
Buscar a solução para essas questões vai garantir a transparência na administração e a continuidade do negócio, já que falta de comunicação, por exemplo, resulta em desconfiança e rompimento.
É importante lembrar que a postura adotada hoje servirá de exemplo para as próximas gerações. Quais exemplos estão sendo dados para as novas gerações? Geralmente na segunda geração o emocional prevalece em detrimento do jurídico, fato este que não ocorre na terceira geração, quando o aspecto jurídico se sobressai ao emocional. Em uma empresa familiar, os irmãos são mais irmãos que sócios e os primos são mais sócios que primos. Dessa forma, tentar solucionar conflitos de irmãos aplicando somente ferramentas de gestão é um erro, pois os problemas são, na maioria das vezes, emocionais.
Organogramas são sempre habitados por pessoas e, por isso, diante da necessidade de ajustes é muito mais fácil mudar a estrutura em que a organização está baseada do que mudar as pessoas. Nesses casos, é necessário alterar aspectos mais profundos, visto que por mais perfeito que tenha sido montado esse organograma, ele não poderá curar as feridas humanas de uma relação conflitante.
Para resolver conflitos em sociedades entre irmãos é preciso adotar determinadas regras:
- Criar um conselho com a participação dos irmãos;
- Fazer reuniões e comunicarem-se permanentemente;
- Implantar um protocolo, onde estarão descritas todas as regras a serem seguidas;- Cobrar o cumprimento das regras;
- Estabelecer um diálogo aberto e franco durante as reuniões;
- Estabelecer claramente as funções operacionais de cada irmão, para que um não interfira na função do outro dentro da propriedade;
- Definir as remunerações.
É preciso lembrar que as pessoas têm perfis psicológicos diferentes e, em um trabalho em que diversos membros da família estão envolvidos, essas características acabam sendo externadas mais facilmente e quando não compreendidas colaboram para o aumento dos conflitos.
Observe os exemplos dos perfis abaixo:
- Racional lógico: toma decisões a partir de informações completas. Na comunicação é breve e conciso, mostrando os prós e os contras. É organizado, eficiente e segue a agenda planejada.
- Visionário Intuitivo: toma decisões sem razões explícitas. Na comunicação, quando mantem, é de forma informal. Pensa em voz alta, é sensível, intuitivo com as pessoas e gosta de se fazer presente.
Para trabalhar em equipe com familiares sugerimos:
- Estar de acordo sobre quem vai exercer a liderança e de que forma isso será feito;
- Desenvolver uma visão compartilhada sobre o tipo de empresa e negócio que gostariam de ter;
- Estabelecer as funções e responsabilidades com objetivos bem definidos;
- Profissionalizar a direção no âmbito de análises e tomada de decisões;
- Estabelecer ferramentas que melhorem a comunicação e diminuam os conflitos;
- Ter regras claras sobre a sociedade empresarial e familiar.
É importante termos em mente que muitos problemas econômicos não tiveram suas causas em frustrações financeiras, mas sim nos relacionamentos familiares. Em 60% dos casos os conflitos são originados pela falta de comunicação entre a família, em 25% por inadequada preparação dos sucessores e herdeiros e, em apenas 15% por razões técnicas e conjunturais. A vida real nos mostra que ter conflitos é normal em qualquer relacionamento, mas o problema está quando não dominamos as técnicas que auxiliam na redução dos mesmos.
Os conflitos não resolvidos provocam atitudes que dificultam as relações pessoais e tornam a comunicação muito difícil, condição esta que é necessária para trabalhar em equipe e ter sucesso na vida pessoal e empresarial. Nesse aspecto é que a Safras & Cifras, empresa que há 26 anos trabalha junto as famílias empresárias rurais brasileiras, assessora, orienta e instrumenta a relação família, patrimônio e negócio.
Cilotér Borges Iribarrem
Consultor em governança e sucessão familiar em empresas rurais
(nota: artigo escrito em português por autor brasileiro)
CEO da efconsulting e docente do ensino superior.
Especialista na elaboração de Protocolos Familiares, Planos de Sucessão, Órgãos de Governo, acompanhando numerosas Empresas e Famílias Empresárias.
Orador em seminários, conferências e autor de livros e centenas de artigos relacionados com Empresas Familiares.