A bitcoin caiu quase 25% nos últimos dias e negociou abaixo dos $1000 (entretanto corrigiu e já negoceia em torno dos $1050). Os preços têm sido pressionados pelo problema técnico de escalabilidade da moeda, que se tem agravado com a crescente procura. É consensual a necessidade de uma solução para que a bitcoin possa continuar a crescer, mas nesta altura a comunidade divide-se entre duas opções: SegWit e Bitcoin Unlimited.
Problema de escalabilidade
Um dos pilares da bitcoin é o facto de todas as versões do software estarem interligadas (por exemplo, alguém com a versão 1 pode enviar bitcoins para a mais recente, e vice-versa), ou seja, o código “central” é o mesmo desde há oito anos. Devido à crescente popularidade da moeda, este código, outrora robusto, está a tornar-se um limitador do potencial.
Em 2010, Satoshi Nakamoto, criador da bitcoin, introduziu um limite no tamanho dos blocos de 1MB. Este tinha como principal objetivo evitar ataques de “denial of service”, visto que hackers podiam criar blocos de tamanho infinito e paralisar a rede.
Atualmente, devido ao aumento de tráfego, a rede está a tornar-se cada vez mais preenchida, fazendo com que transações que antes demoravam poucos minutos a serem confirmadas, levem agora horas ou até dias. Devido a isto, tem havido uma subida gradual das taxas cobradas, de modo a que as transações sejam mais rápidas.
Várias entidades já propuseram diferentes soluções. Neste momento, as que detêm o maior número de apoiantes são a SegWit e a Bitcoin Unlimited. Enquanto a primeira aposta num aumento até 4MB por bloco, a segunda tem uma filosofia mais radical – acabar com o limite e deixar a rede decidir consoante o volume. Ambas têm as suas desvantagens. A primeira apresenta uma solução a curto prazo, visto que o novo limite iria ser posto em causa no futuro. Já a segunda tenderá a centralizar mais a moeda, visto que com blocos exponencialmente maiores, só os membros com capacidade para receber e armazenar o influxo de dados é que poderiam processar tal aumento.
Enquanto que o SegWit obrigaria apenas os miners a fazerem o update de modo a continuarem a sua atividade, a Bitcoin Unlimited implicaria um “hardfork”. Isto é, um update no código base da moeda que não irá permitir indivíduos com o software antigo conectarem-se à rede. Este cenário poderá levar à criação de uma outra moeda, à qual 20 bolsas de bitcoin já revelaram que iriam denominar Bitcoin Unlimited (BTU), num plano de contingência publicado esta semana. Garantem que, na eventualidade da bitcoin se separar em duas moedas diferentes, irão suportar a compra e venda da “antiga” bitcoin e da “nova” moeda que surgirá.
A verdade é que o reconhecimento e poder da marca que a bitcoin conseguiu construir ao longo dos últimos anos, estão entre as suas mais-valias. Uma divisão entre duas moedas não seria bem compreendida pelos investidores menos informados, pelo que esta questão constitui uma ameaça a todo o ecossistema bitcoin. Neste momento não passa de uma possibilidade, mas a mera dúvida e incerteza vão sendo suficientes para assustar o mercado, que tem respondido vendendo a moeda.
Nos últimos meses, o foco esteve na questão da aprovação ou não do ETF indexado à bitcoin na NYSE. Com as atenções aí centradas, foi passando despercebida esta realidade desconfortável para a moeda.
O debate irá continuar e não se espera uma resolução a curto prazo. O mercado continuará a seguir de perto a situação, e a evolução dos preços muito dependerá da probabilidade de um hardfork e a possível separação da moeda em dois ramos.
CEO da efconsulting e docente do ensino superior.
Especialista na elaboração de Protocolos Familiares, Planos de Sucessão, Órgãos de Governo, acompanhando numerosas Empresas e Famílias Empresárias.
Orador em seminários, conferências e autor de livros e centenas de artigos relacionados com Empresas Familiares.