As políticas públicas podem assumir-se como um catalisador disruptivo do mercado da empresa familiar
Uma empresa, tal como uma célula, está integrada numa envolvente com a qual interage continuamente; seja para se relacionar com todos os stakeholders necessários ao desenvolvimento da sua atividade, seja para entregar valor àqueles que são a sua principal razão de existência e sem os quais não sobrevive: os clientes.
O estudo “Empresas familiares da próxima geração: Liderando um negócio familiar num ambiente disruptivo”, da Deloitte, identificou as políticas públicas como elemento influenciador disruptivo da envolvente empresarial. Podendo estes fatores manifestarem-se numa enorme amplitude de áreas e por níveis de impacto ténues até patamares mais extremos de influência, possuem algo de comum relativamente à atitude a adotar pelas empresas familiares, pois devem:
- ser identificados: quais são os influentes na sua atividade,
- ser interpretados: que impacto, negativo ou positivo, podem originar,
- levar à ação: o que fazer para reduzir os constrangedores e aproveitar os potenciadores de oportunidades.
Sendo as políticas públicas emanadas de órgãos institucionais ligados ao governo de um país e, como tal, resultantes dos seus programas eleitorais, é relevante que empresas se agrupem em órgãos representatitvos no sentido de se assumirem como elementos proativos influentes na sua elaboração ou, no limite, para manifestarem os seus pontos de vista específicos ou reativos.
Certo é que da maior ou menor capacidade de atuação dos empresários está, muitas vezes, a sobrevivência futura das suas empresas e, no limite, bem estar das famílias.
O Alqueva é o maior reservatório artificial de água da Europa, denominado como Grande Lago (250 km2). A sua construção teve como principais objetivos a produção de energia elétrica (injetada na rede elétrica em 2012), o regadio (120 mil hectares) e outras atividades complementares, nomeadamente o turismo.
É nesta envolvente que, em março de 2016, esta zona alentejana assistiu à abertura do seu primeiro complexo turístico de cinco estrelas: São Lourenço do Barrocal, Hotel & Monte Alentejano.
José António Uva, promotor do empreendimento localizado no concelho de Reguengos de Monsaraz, pertence à oitava geração da família que há dois séculos vive nesta herdade de 780 hectares, que engloba um espólio histórico de 16 antas e um menir do Neolítico (7.000 anos) e possui uma ligação direta ao Grande Lago.
Regressado de uma experiência no estrangeiro, dedicou 2 anos a estudar e a perceber que todo o potencial daquele território era uma herança demasiado preciosa para não ser continuada.
O projeto custou cerca de 9 milhões de euros, 60% dos quais com origem em apoios comunitários, inclui uma exploração agrícola suportada nos olivais e vinhas de castas autóctones, que produzem azeite e vinho com o nome do monte, uma horta biológica e produção de aveia. Do empreendimento faz parte também um projeto imobiliário que visa agregar uma comunidade independente, mas com o espírito da que existia no séc. XIX, onde 50 famílias formavam uma pequena aldeia agrícola dinâmica e autossuficiente.
O hotel, um projeto de Souto Moura, já recebeu várias distinções, de que se destacam a Best Hotel SPA da Monocle ou a Small Luxury Hotels.
Temas para Reflexão:
- Quais as principais políticas públicas em vigor ou previstas desenvolver?
- Essas políticas geram oportunidades que a nossa empresa pode agarrar?
- Como integramos esses fatores externos na missão e no futuro da nossa empresa familiar?
CEO da efconsulting e docente do ensino superior.
Especialista na elaboração de Protocolos Familiares, Planos de Sucessão, Órgãos de Governo, acompanhando numerosas Empresas e Famílias Empresárias.
Orador em seminários, conferências e autor de livros e centenas de artigos relacionados com Empresas Familiares.