A estratégia de inovação, em especial via disrupção, na empresa familiar está associada aos níveis de risco desejados pelos acionistas e pela Administração.
Numa envolvente que antecipe o surgimento de potenciais inovações disruptivas, as empresas familiares podem optar por distintas atuações:
- Assumir-se como a disrupção: liderar o processo, incorporando o maior risco mas também os resultados de um potencial sucesso (Nespresso com a máquina e cápsulas de café);
- Incorporar a disrupção: seguir o líder e passar também a oferecer a diferenciação (Delta com o desenvolvimento de máquina de café e cápsulas próprias);
- Conter a disrupção: evitar a sua implantação recorrendo à sua posição de força (Luso com a água de sabores);
- Ignorar a disrupção: considerar que é algo negligenciável para a sua oferta de mercado (Penacova mantém-se somente na oferta de água lisa).
Esta última opção, de algum alheamento à mudança, é a que tradicionalmente se associa às empresas familiares, dada a sua maior aversão ao risco e ao potencial impacto depreciativo nos resultados da empresa e no valor da família.
No estudo “Empresas familiares da próxima geração: Liderando um negócio familiar num ambiente disruptivo”, da Deloitte, a maioria dos líderes da próxima geração (79%) considera existir um bom equilíbrio entre a estratégia de inovação e o nível de risco que a administração da empresa está disponível para assumir, o que denota um posicionamento distinto do que se assume para os negócios familiares.
Fundada em 1906, a icónica Livraria Lello abriu o capital a membros não familiares na 2ª década deste século. Com a entrada deste sócio e investimentos de vários milhões de euros nos vitrais, fachadas, marketing, etc., em julho de 2015 assumiu-se como a primeira livraria portuguesa a cobrar entrada. O valor de €3 era dedutível na aquisição de livros e permitia ajudar a regular o enorme fluxo de entradas.
Passados 6 meses os resultados refletiram-se em menos visitas e incremento das vendas de livros em cerca de 300%!
Ao completar 3 anos desta disrupção, o valor de acesso é agora de €5, podendo ser deduzidos na aquisição de livros, ou incorporados na compra de voucher com livro. Este mês de julho de 2018 foi o melhor de sempre: mais de 120 mil pessoas, média 4.000 por dia, que foram apoiadas pelos atuais 49 empregados (6 vezes mais que em 2015) na aquisição de 1.200 livros por dia, nomeadamente edições próprias de “Os Lusíadas”, em quatro línguas, “A Mensagem” e “O Principezinho”.
Em dezembro de 2017 a Livraria Lello recebeu o prémio Inovação da iniciativa Fazemos Bem.
Temas para Reflexão:
- Conseguimos identificar áreas de disrupção no nosso negócio?
- Desejamos ser líderes da mudança ou seguidores das tendências?
- Como podemos desenvolver e implementar as disrupções minimizando os riscos globais na empresa?
CEO da efconsulting e docente do ensino superior.
Especialista na elaboração de Protocolos Familiares, Planos de Sucessão, Órgãos de Governo, acompanhando numerosas Empresas e Famílias Empresárias.
Orador em seminários, conferências e autor de livros e centenas de artigos relacionados com Empresas Familiares.