As empresas familiares possuem uma reduzida visibilidade política-institucional, em especial quando comparada com a sua importância para a economia de um país.
As empresas familiares são consideradas empreendedoras, exportadoras, bons locais para trabalhar, fixadoras de mão de obra no interior, resilientes, etc. No entanto continuam sem ver reconhecida a sua importância, sem serem analisadas a nível nacional e de forma agregada as suas particularidades, nem serem implementadas medidas que facilitem, ou pelo menos não dificultem, a sua continuidade em mãos da família que a fucnou ou controla.
O estudo “Empresas familiares da Região Norte: Mapeamento, Retratos e Testemunhos”, de 2018, desenvolvido pela UMinho, identificou como uma ameaça a reduzida visibilidade político-institucional das empresas familiares.
As grandes sociedades, em especial as cotadas em bolsa ou aquelas cuja dimensão o proporciona, aparecem recorrentemente nos meios de comunicação por distintos motivos que captam a atenção desses media.
Já as PME e os negócios de menor dimensão, ou que estão deslocalizadas das principais cidades, não conseguem aceder de forma simples aos grandes meios de comunicação, contudo, a sua relevância nos locais de implantação e os valores agregados de todas elas são de tal forma expressivos que merecem uma atenção e tratamento bem distinto.
A Comunidade Europeia há mais de 10 anos que apresentou uma definição concreta de empresa familiar, no sentido de permitir que fossem classificadas e analisadas enquanto entidades diferentes e com especificidades muito próprias. Infelizmente, passados que são 10 anos, ainda muito pouco aconteceu, quer a nível dos estados membros quer a nível central. Esperemos que os próximos tempos sejam mais promissores e as empresas familiares vejam alguns dos seus contributos ao nível de emprego, das exportações e do PIB devidamente valorados.
Ou será necessário uma greve para se sentir a sua verdadeira importância?
O Município de Valpaços alcançou em 2017 o registo do Folar de Valpaços como um produto com Indicação Geográfica Protegida, tornando-se o único folar do país a obter este certificado, sendo a sua confeção delimitada ao concelho de Valpaços e comercializado sob o nome Folar de Valpaços IGP. São os ingredientes ímpares da região que o diferenciam: azeite e as várias carnes do fumeiro.
Na visita Pascal, o padre e membros da paróquia levavam “O Senhor” de casa em casa e “tiravam o folar”. Este era ainda o presente que os afilhados recebiam dos padrinhos para quebrar o período de grande jejum.
A importância do Folar em Valpaços é tão significativa que possui mesmo a Feira do Folar, no fim de semana anterior à Páscoa, dinamizando muitas empresas familiares da região: mais de uma centena de produtores, restaurantes, pensões, etc. Em 2019 eram esperados mais de 150 mil visitantes e um volume de negócios global superior a €1,5 milhões de euros.
A Panificadora Moutinho, de Conceição Moutinho e Óscar Soeima, sendo de 1979 possui origens duas gerações atrás, quando a sua avó fazia no forno da aldeia de Argeriz o pão regional que vendia aos habitantes da povoação.
À avó seguiu-se a mãe e depois os filhos que, com o crescimento do negócio dividiram em pastelaria e panificadora. Atualmente são doze pessoas a produzir o “Folar de Valpaços” e o “Pão de Centeio”, que comercializam em 4 espaços e fazem a distribuição e venda ao domicílio em vários concelhos.
Temas para Reflexão:
- Que entidades podem desenvolver iniciativas que promovam os negócios familiares locais?
- Como podem as empresas familiares associarem-se e promover a sua diferenciação?
- Quando é que o Instituto Nacional de Estatística (INE) concretiza as alterações para tratar informação das Empresas Familiares?
CEO da efconsulting e docente do ensino superior.
Especialista na elaboração de Protocolos Familiares, Planos de Sucessão, Órgãos de Governo, acompanhando numerosas Empresas e Famílias Empresárias.
Orador em seminários, conferências e autor de livros e centenas de artigos relacionados com Empresas Familiares.