Trabalho na empresa da família há já oito anos e sou responsável pela área de vendas. O meu irmão mais novo terminou agora o curso e o meu pai quer que ele venha trabalhar connosco. Não tenho nada a opor, mas quando soube que ele irá entrar com as mesmas condições que eu (vencimento, carro, seguros…) e já cá trabalho há tanto tempo, senti-me muito desconfortável, pois penso que não é justo e vai gerar atritos.
O meu pai insiste que os filhos têm de ser tratados de forma igual e isso não me parece nada correto. Afinal, quem tem razão?
É normal que no âmbito das famílias os pais queiram garantir, para os seus filhos, situações de igualdade e justiça nas suas relações. É um bom princípio que integra a própria vivência dos valores familiares.
Ao estarmos a falar no domínio do funcionamento das sociedades devem imperar as boas práticas de gestão. As empresas possuem normas próprias de funcionamento, em que as condições de admissão e de trabalho dos colaboradores deverão respeitar regras específicas baseadas nas funções, perfis, mérito e de acordo com o que é melhor para a organização.
Por isso é perfeitamente compreensível o sentimento do empresário que, sendo pai, não quer prejudicar nenhum dos seus filhos e, de certa forma, é uma defesa no sentido de garantir que todos se sintam igual e justamente tratados no seio familiar.
Como neste caso estamos no âmbito da empresa, tal como foi referido, os princípios de ação deverão ser outros.
A nossa proposta é que, com transparência e frontalidade, tenham todos uma conversa sobre o tema que, para além de poder contribuir para a resolução da questão atual, crie as bases de funcionamento para o futuro no que respeita à gestão de familiares na empresa. É fundamental ter uma ideia clara sobre algumas questões, nomeadamente:
- Em que termos é possível a um familiar candidatar-se a uma função na empresa da família?
- Que requisitos prévios deverá cumprir?
- Quais as condições de admissão?
- Que sistema de remunerações existe na empresa que contemple novos colaboradores (familiares ou não)?
- Existe algum sistema da avaliação de desempenho, nomeadamente de familiares, que promova o seu progresso profissional sustentado?
Com respostas objetivas e consensuais conseguiremos simultaneamente promover as boas práticas empresariais, um tratamento justo baseado nas regras previamente definidas, a salvaguarda das relações familiares e um patamar de gestão mais exigente e profissional que irá contribuir em muito para a perenidade da organização.
Nota: Este texto faz parte da coluna “Empresas Familiares – Perguntas e Respostas“, publicada no jornal “Metal” de 21 de dezembro de 2018
CEO da efconsulting e docente do ensino superior.
Especialista na elaboração de Protocolos Familiares, Planos de Sucessão, Órgãos de Governo, acompanhando numerosas Empresas e Famílias Empresárias.
Orador em seminários, conferências e autor de livros e centenas de artigos relacionados com Empresas Familiares.