A propriedade de uma empresa familiar. Como ser um acionista eficaz.
Se é, ou vai ser, acionista de uma empresa familiar deve ler este artigo e complementar a mesma com o próprio livro. Ele tem por objetivo auxiliar os acionistas a compreenderem como podem contribuir de forma construtiva e responsável para a continuidade da empresa familiar e o bem-estar da família empresária®.
Este é o segundo, de outros livros que serão analisados, da coleção referência “Family Business Leadership Series” – indispensável a quem se interessa pelo mundo das empresas familiares e das famílias empresárias®, e de um dos seus autores de referência.
Título original “Family Business Ownership. How to Be an Effective Shareholder”
- Tipologia: Livro
- Autores: Craig E. Aronoff, John L. Ward
- Ano da 1ª Edição: 2001
- Editora: Family Enterprise Publishers, Georgia
https://www.palgrave.com/gp/book/9780230112308
Temas principais
- As distintas categorias de proprietários.
- O que os proprietários merecem.
- Os benefícios de ser um proprietário bem formado.
Síntese dos temas abordados
- Um proprietário de uma empresa familiar pode ser caracterizado por um, ou mais, de seis perfis, atendendo à sua maior ou menor envolvência com a mesma.
- O acionista de uma empresa merece, e é-lhe devido, um conjunto de retornos que deve ser reconhecido e respeitado.
- Quanto mais bem formados forem os sócios de uma empresa familiar, mais capacitados estão para serem bons acionistas e para velarem pela continuidade do seu legado empresarial.
Sinopse
1. Numa empresa familiar pode distinguir-se seis categorias de proprietários:
- Proprietário Operacional (Operating Owner): sócio e gestor ou empregado que se envolve no dia a dia da empresa.
- Proprietário Supervisor (Governing Owner): sócio dedicado à supervisão ou apoio, mas que não se envolve nas operações da empresa.
- Proprietário Ativo (Active Owner): sócio que não trabalha na empresa, mas que possui um interesse genuíno por tudo o que se passa na mesma.
- Proprietário Passivo (Passive Owner): sócio interessado essencialmente nos dividendos sem decisão consciente para se manter como proprietário.
- Proprietário Investidor (Investing-Owner): sócio parecido com o passivo, mas que assume decisão consciente de se manter como sócio se estiver satisfeito com os retornos obtidos.
- Proprietário Orgulhos (Proud Owner): sócio sem conhecimento ou envolvimento do negócio, mas orgulhoso de ser acionista.
Conhecer as diferentes classes de proprietários da sociedade comercial é crucial numa empresa familiar, pois permite conhecer as suas distintas expectativas e, em consonância, antecipar e gerir de forma adequada potenciais movimentações acionistas e a sucessão na titularidade (próximos sócios).
2. Os proprietários de uma empresa merecem:
- Uma Liderança: o desenvolvimento e a sucessão de uma liderança que assegure a necessária competência, confiança e visão que permitam assegurar o crescimento e sucesso da empresa.
- Um Retorno financeiro e psíquico: para além do retorno financeiro, um sentimento de pertença e a um propósito com orgulho.
- Uma Gestão competente: um modelo de gestão competente, com membros independentes, que assegure os objetivos dos proprietários.
- Uma Proteção do negócio: acordos para dinâmicas de transações de ações que permitam manter o legado na família e não colocar a empresa em risco.
- Informação: uma gestão transparente e que informa os acionistas dos seus planos, desempenhos e compensações.
- Prestação de contas: uma gestão que demonstra e implementa os valores definidos pelos sócios / família e os objetivos não financeiros; o desempenho a curto e a longo prazo e que possui regulamentos de bom governo.
- Respeito: serem escutados e obterem respostas no que esteja relacionado com os seus próprios objetivos.
Os gestores devem ser excelentes profissionais e não esquecer que os sócios possuem direitos e merecem um fluxo de informação e tratamento adequado à sua condição.
3. Benefícios de ser um Proprietário bem formado:
- Dignidade pela posse: merece-se a propriedade auxiliando a preservar e a passar o negócio à próxima geração.
- Credibilidade: a opinião é respeitada.
- Desfrutar: a oportunidade para contribuir para um fim maior que o seu próprio.
- Ligação: uma maior cumplicidade e conexão à empresa e à família.
- Proactividade: contributo para a proteção e a valorização do ativo possuído.
Alguns dos conteúdos apresentados são bem ilustrados pela família Lopo de Carvalho e a sua posição na Quinta da Alorna.
A Quinta da Alorna é uma referência na produção de vinho na região do Tejo, sendo detida pela família Lopo de Carvalho e que está a dois anos de comemorar o seu tricentenário. A sociedade que desenvolve a atividade empresarial é liderada por Pedro Lufinha, Diretor-Geral, que há mais de 10 anos implementa a estratégia definida pelos acionistas e representantes da família.
Numa entrevista ao jornal de negócios, de 8 de março, Pedro Lufinha apresentou um plano de investimentos de vários milhões de euros que ilustra o desejo dos proprietários para que “… a empresa saia mais da zona de conforto, … foi crescendo ano após ano, moderadamente, mas agora quer ser uma realidade diferente”.
A Sociedade Agrícola da Alorna, presidida por Pedro Norton, apresenta uma posição acionista que reflete a chegada à 5ª geração da família: 9 acionistas em que o maioritário possui menos de 11% do capital (fonte: sabi relatório contas de 2019).
Pedro Norton, ao partilhar a notícia do jornal de negócio na rede linkedin, acrescentou:
“A Alorna é, modéstia à parte, um bom exemplo de uma empresa familiar. Há cerca de 20 anos tomámos uma decisão muito difícil: nenhum membro da família tem cargos executivos ou é remunerado.
Separação total entre propriedade e gestão. A família define ambição e estratégia e acompanha de perto uma excelente equipa executiva. O resultado foi uma enorme transformação da empresa.
Agora é altura de dar mais um salto na ambição: duplicar a faturação até 2025, apostar na marca e na melhoria das margens.
Tal como há 20 anos, estou certo que cumpriremos, mais uma vez.”
Dado o excelente exemplo partilhado, comentei:
“Entre distintos modelos possíveis, o que considera a exclusão da família dos cargos executivos é dos mais difíceis de consensualizar e implementar.”
Ser detentor de parte de um património empresarial histórico é um privilégio e uma enorme responsabilidade – em especial para quem deseja assegurar a continuidade do mesmo pelas gerações futuras -, pelo que é muito relevante possuir acionistas bem formados e conscientes da importância do seu papel.
Desafios para reflexão
- Que categoria de proprietário sou ou desejo ser?
- Existe sintonia entre o que desejo e o que obtenho da empresa?
- O relacionamento enquanto proprietários beneficia da nossa relação familiar?
O Autor: Craig E. Aronoff
- Como fundador do Cox Family Enterprise Center e professor emérito da Kennesaw State University, foi um pioneiro na educação de empresas familiares.
- Cofundador do “The Family Business Consulting Group” tendo trabalhado com muitas das principais empresas familiares americanas
- Em coautoria com John L. Ward é um dos escritores mais prolíficos no campo das empresas familiares: mais de 30 livros, incluindo a “The Family Business Leadership Series”
- Um dos mais reconhecidos consultores, oradores, formador e escritor sobre a temática das empresas familiares.
Principais fontes e fotografias ou imagens
- https://www.thefbcg.com/consultants/craig-e-aronoff-ph-d/
- https://www.palgrave.com/gp/book/9780230112308#
- Fotografia: www.thefbcg.com
- http://alorna.pt
Família empresária® é uma marca registada da EmFaconsulting.
CEO da efconsulting e docente do ensino superior.
Especialista na elaboração de Protocolos Familiares, Planos de Sucessão, Órgãos de Governo, acompanhando numerosas Empresas e Famílias Empresárias.
Orador em seminários, conferências e autor de livros e centenas de artigos relacionados com Empresas Familiares.