Porque é que a família empresária não usa o seu protocolo familiar?
Mais cedo ou mais tarde, no caminho da evolução de uma empresa familiar, a família proprietária depara-se com a oportunidade de elaborar um protocolo familiar. Um conjunto de regras ou cláusulas que irão regular a sua relação com a empresa ou a atividade económica principal.
Se se consegue alcançar o consenso e redigir o projeto, a família empresária® terá em mãos um manual de gestão do seu património, que permitirá realizar, entre outras coisas, a transição do projeto empresarial para as mãos da próxima geração – pelo menos esta costuma ser a sua motivação inicial.
O protocolo familiar é um conjunto de regras ou cláusulas que irão regular a relação da família empresária® com a empresa ou a atividade económica principal.
A elaboração do protocolo familiar é um processo complexo, no decurso do qual podem surgir situações que impeçam a sua conclusão ou, pior ainda, que a assinatura da sua minuta final seja adiada indefinidamente.
Essa complexidade também pode afetar a etapa posterior à sua redação, pois, após ter percorrido o caminho descrito acima, algumas questões podem surgir, tais como:
- O que acontece quando nada acontece?
- Conhecem algum caso em que a vontade de regular a relação dos proprietários com o seu património através de um protocolo familiar fica numa intenção?
A nossa experiência salienta-nos que, quando nos deparamos com casos como esses, os motivos têm raízes muito semelhantes. Algumas das razões pelas quais o protocolo familiar não é colocado em prática pela família empresária® são:
- Após investir recursos e emoções num longo e complexo processo, conseguem assinar um documento que fará parte do seu arquivo histórico, mas não do dia a dia das suas vidas.
- Esforçaram-se muito num projeto regulatório que não se adaptou à cultura ou aos hábitos de quem assinou o pacto e comprometeu-se, na época, para fazer do seu projeto empresarial a base de um futuro melhor.
- Assumiram com excessiva rigidez os fundamentos incluídos no protocolo familiar. Deixando de lado a possibilidade de intervir ou repensar o cenário para reativar o compromisso e dar vida à ideia original.
- Recorreram a formatos de protocolos baseados nas necessidades de outra família, desconhecendo as necessidades e características da sua própria família empresária®.
Por último, o mais importante e onde quase todos os casos coincidem, é pensar que todas as soluções estão no protocolo familiar.
Temos de ter claro que o futuro não pode ser formalizado. É impossível para alguns acordos prever os milhares de circunstâncias que um sistema tão complexo como uma família empresária® enfrentará constantemente ao longo da sua evolução.
O verdadeiro segredo está no conselho de família. Somente com a ativação de um fórum em que a família possa falar sobre assuntos que não foram previstos, mas que baseou a sua filosofia de trabalho num sonho compartilhado (1), uma visão e valores claros e algumas regras básicas de funcionamento, será possível seguir a enfrentar os perigos que espreitam o projeto empresarial e a sua continuidade.
Trecho do artigo “Já temos protocolo familiar… e agora?” do livro “A empresa familiar: um mapa para a sustentabilidade”.
(1) Ver artigo Propósito da Família Empresária®: Symington e Mars
Artigo de Guillermo Salazar. Sócio-gerente da Exaudi Family Business Consulting®.
Publicado em https://www.exaudionline.com/, em 2022/03/18, reproduzido com autorização do autor e tradução do antónio nogueira da costa
CEO da efconsulting e docente do ensino superior.
Especialista na elaboração de Protocolos Familiares, Planos de Sucessão, Órgãos de Governo, acompanhando numerosas Empresas e Famílias Empresárias.
Orador em seminários, conferências e autor de livros e centenas de artigos relacionados com Empresas Familiares.