As Empresas Familiares têm lá as suas particularidades, e armadilhas.

Certa vez ouvi de alguém que tenho muito apreço e consideração: os filhos precisam de raízes e asas, foi marcante. Na época creio que não entendi muito bem o que aquilo realmente significava, era bem jovem, ainda hoje há espaço para construir vários outros significados, apenas sei que foi uma daquelas frases, das muitas que reverberam na mente e que mesmo sem total consciência dão direção e ancoram decisões.

Naquele momento também ainda não era mãe nem trabalhava com desenvolvimento humano, menos ainda apoiando empresas familiares, herdeiros, sucessores e executivos. Recentemente esta frase voltou com muita força, acordada por eventos em alguns clientes, dois em especial.

A empresa familiar é berço da família, onde aprendemos a ser quem somos, nos constituímos como indivíduos, consolidamos uma identidade.

Há famílias que oferecem um bom contexto para que estas experiências aconteçam e para que as asas possam crescer fortes e saudáveis.

Outras, por sua vez, e por diversas razões, conscientes ou inconscientes, cortam as asas logo ao nascer, jamais poderão deixar o ninho e assim seguir alimentando os seus pais, seja lá qual for a necessidade deles.

Imagem de raízes de árvore e de asas ao estilo de Picasso, gerada pelo dall-e

As asas são para voar e trilhar o seu próprio caminho, escolher a sua profissão, com quem namorar e casar, onde morar, acertar e errar, construir o seu lugar no mundo, estabelecer as suas relações, simplesmente poder “ser”. 

As raízes são os valores que vamos aprendendo na relação com os familiares e no contexto social que vivemos, os nossos ancestrais, suas e nossas histórias que nos trouxeram até aqui e nos fizeram ser quem somos. Tatuagem na alma e no coração que independente de onde estejamos fisicamente, estará sempre presente e, com força, norteando a direção e as decisões.

O maior legado que podemos deixar e a certeza que temos para onde voltar. 

Parece um tanto banal, mas “ser” alguém, na essência da palavra, não é tarefa fácil para integrantes de empresas familiares. Estes já nascem recheados de expectativas, papéis, projetos que não são seus, mas que precisam ser executados para atender a uma ou mais pessoa.

Esta semana um cliente me fez lembrar de um conceito de Donald Winnicot, pediatra e psicanalista inglês – sobre o falso self  onde “as expectativas de outras pessoas podem se tornar de suprema importância, sobrepondo ou contradizendo o senso original de si, aquele ligado às raízes do próprio ser“.

Somando experiências ao longo da vida, a pessoa aprende que é preciso se submeter para sobreviver, em todos os aspetos, e torna-se vazio, com pouco ou quase nenhum espaço para si mesmo. Uma vida com menos sentido e recheio.

Já havia pensado sobre isto?

Esconder-se é um prazer, mas não ser encontrado é uma catástrofe.” Donald Winnicott

PS – Donald Woods Winnicott (1896 – 1971) foi um pediatra e psicanalista inglês influente no campo das teorias das relações objetais, conhecido pelas ideias relacionadas com o verdadeiro e falso “self“, e por desenvolver a noção de objeto transicional (a transicionalidade marca o início da quebra da unidade mãe-bébé).

 

Beatriz Brito

Dedica-se a desenhar o futuro das empresas familiares desenvolvendo herdeiros, sucessores e executivos, mas também é sócia (2ª geração) e Conselheira da empresa da família Laudejá Agronegócios.

 

 

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