A renúncia recente de dois Administradores do BPI permite um conjunto de reflexões para Empresas Familiares lideradas por uma equipa (seja ela Administração ou Gerência).

Recorrendo ao artigo do Expresso, de 20 de fevereiro, permito-me extrair algumas frases para identificar temas que permitem estabelecer um paralelismo para a sua ocorrência nas sociedades familiares e, deste modo, contribuir para suscitar algumas questões para reflexão dos seus acionistas, administradores ou membros de famílias empresárias.

 

“… duas saídas na administração do BPI, […] administradores executivos do banco […] tudo por via de acordos amigáveis […] por via de renúncia, mas com a vontade demonstrada por João Pedro Oliveira e Costa, presidente executivo do BPI, alinhado com o conselho de administração e o acionista dono do banco…”

    • saída de 2 de 6 membros de uma equipa executiva: deixar de contar com 1/3 da equipa que lidera a organização deve ser um processo bem gerido para causar o mínimo impacto no ecossistema da empresa, com relevância para os clientes, fornecedores e empregados.
    • saída por via acordos amigáveis: as pessoas que dedicam uma parte da sua vida profissional a uma organização devem e merecem um tratamento adequado. É bom para as mesmas e para a tranquilidade da empresa.

 

” … ter-se-ão agudizado desentendimentos entre os dois gestores, […] em assuntos discutidos pela comissão executiva que atingiram um ponto de não retorno, e que dificultava o trabalho […] Não se pede que todos pensem da mesma maneira …”

    • numa equipa podem ocorrer posições distintas: especialização, diversidade de opiniões, debate, … são algumas das vantagens de se ter uma liderança dos negócios assegurada por uma equipa, no entanto, as deliberações são para ser acatadas e implementadas.
    • a atividade e o futuro da empresa não podem ser afetados por posições pessoais divergentes que possam colocar em risco a confiança dos seus stakeholders.

 

“… as renúncias aos cargos de administradores apresentadas por ambos, que também deixaram de ser trabalhadores, já que com eles “foram celebrados acordos de cessação dos vínculos com o banco…”

    • Quando um empregado da empresa é nomeado administrador, o seu contrato de trabalho é suspenso.
    • Quando um administrador cessa as suas funções, se era funcionário da empresa, retoma o seu contrato de trabalho, se não o era, não estabelecerá qualquer vínculo com a empresa.

 

“… estas renúncias foram uma surpresa […] o mais recente mandato, iniciado em agosto de 2023, só terminaria no fim de 2025.”

    • mesmo que um mandato ainda esteja no seu início, se não se consegue uma convergência de interesses, é melhor efetuar a substituição de administradores executivos. Os custos e outros impactos na organização serão muito superiores se se mantiver a situação até final do mandato.
    • saliente-se que uma das funções do Conselho de Administração e, em especial, do seu chairman, é supervisionar a Comissão Executiva, o seu adequado funcionamento e, se a sua prestação não está conforme o expectável, propor alterações.

 

” ... as duas substituições para a administração não têm ainda autorização dos supervisores e, até assumirem os novos cargos, os pelouros dos dois gestores de saída têm de ser redistribuídos por quem já está na comissão executiva.

    • a substituição pode ser imediata por cooptação: o Conselho de Administração seleciona e nomeia outras pessoas – daí a importância de se ter um plano de sucessão de gestores – sendo que, oportunamente, os acionistas terão oportunidade de ratificar (aceitar) ou alterar essa opção. Neste caso acresce a regulação por entidades externas, o que implica um período mais dilatado até as novas nomeações serem aceites.
    • a equipa reduz-se, mas o trabalho mantém-se, logo existirá uma sobrecarga sobre os demais membros da equipa executiva que terão de assumir as funções dos anteriores colegas.

 

“… o Conselho de Administração expressa publicamente o seu apreço e reconhecimento pelo importante contributo para o desenvolvimento do banco” de ambos.”

    • O reconhecimento público da qualidade individual das pessoas manifesta o apreço pelas mesmas e pelo trabalho que desenvolveram na sua ligação à empresa.
    • Esta posição reflete ainda uma política adequada de tratamento das pessoas (nas minhas costas vês as tuas) que colaboram com a organização.

 

Nas empresas familiares, uma situação idêntica à relatada, na qual as pessoas visadas sejam também membros da família empresária, o impacto terá uma maior relevância e abrangência, pois passa:

    • das paredes da empresa para as das habitações,
    • da mesa de reuniões para a mesa de refeições,
    • das relações racionais para as emocionais,

 

Estão as famílias empresárias preparadas para atuar de forma adequada se confrontadas com circunstâncias idênticas?

Estes enormes desafios não podem apanhar a administração, os acionistas ou família empresária de forma inesperada. Por essa razão, são temas que, por muito incómodos que possam parecer, devem ser abordados no processo de desenvolvimento de um protocolo familiar.

 

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