Criada na oficina de metalomecânica dos avós, a Juliana Oliveira licenciou-se, trabalhou numa grande consultora, da qual se demitiu “para passar de economista a serralheira“.

Foi o caminho imaginado? Não.

Tal como a grande maioria dos jovens, ao ter de optar por uma área de estudos, a Juliana selecionou por exclusão de partes: sabia o que não apreciava, ou para a qual não tinha jeito, e que gostava de números.

Foi para economia.

Durante o mestrado na área de gestão foi aliciada e integrou a equipa de uma prestigiada consultora, o que lhe permitiu algo que desejava: conhecer várias empresas e pessoas para tentar identificar o que a fascinava.

Após 3 anos de dedicação à KPMG, decide demitir-se, reconhecendo que esta ligação lhe proporcionou diversos elementos determinantes:

    • conhecer o atual sócio, Luís que, também começou a trabalhar na KPMG (2 portuenses na mesma equipa em Lisboa desde os 21 anos);
    • a forma de trabalhar;
    • o liderar pelo exemplo (saber estar com as pessoas).

 

Os avós tinham uma pequena serralharia, na qual ela foi criada e passava muito tempo desde criança. Com o falecimento do avô, aquando da sua entrada na faculdade, o pai tentou, com a avó de 80 anos, segurar o negócio. A dependência da construção civil, associada ao momento de crise, levou-o à conclusão de que não conseguia fazer muito mais e teria de fechar a empresa no final do ano.

No contexto da sua vida familiar, ninguém falava ou a direcionava a Juliana para uma potencial ligação à continuidade do negócio. 

A mãe dizia que “não criou uma filha para ir para o ferro-velho”.

A decisão não foi fácil. Mas para ela, com 25 anos, o que tinha a perder? Os pais proporcionavam a casa, a mesa e a roupa lavada … decide assumir o risco controlado e mergulhar na empresa.

Prioridade? “Lamber papel”.

Ver o que se passava e reduzir custos. Mudar imagem empresa. Ter um domínio, email…

Era ela e 2 funcionários polivalentes: mecânicos, eletricistas, … mas não tinham trabalho!

Só vislumbrou uma alternativa: mãos à obra e enfrentar a realidade; ou seja, sair à rua para pedir trabalho.

Muita vergonha“, mas só aí é que o trabalho chegou. Fazia tudo: comprava, vendia, pintava, …

Rapidamente constatou que se aprende o negócio com o acontecer do negócio.

Foi ao maior cliente privado, falou durante 1h e recebeu como feedback:

“foi 1ª serralheira que sabe o que diz.”

O discurso transmitiu a confiança para lhe darem uma oportunidade.

Apesar de todos os esforços, a empresa não sobreviveu.

Desistir? Perante uma enorme adversidade, o relevante é a atitude da pessoa.

A Juliana tinha uma memória, um legado para honrar e um propósito: salvar a sua casa, a sua oficina. Das suas memórias de criança lembrava-se do cheiro a lixo.

Tinha uma ideia de negócio e havia vontade de fazer acontecer sem ter nada. Em 2016 cria a Olimec , em sociedade com o Luís, o colega que tinha vindo trabalhar com ela na empresa anterior.

Avançaram:

    • O dono de um armazém que visitaram acreditou e ajudou ao arrendar o espaço por metade do preço do mercado.
    • Um fornecedor apostou na energia deles e forneceu os equipamentos sem cobrar (“pagam quando puderem”).
    • Os funcionários criados pelo avô conheciam-na desde que nasceu, pelo que também acreditaram.

 

Não ter sucesso ao salvar a empresa da família não a limitou. Pelo contrário, deu-lhe muito mais energia.

O desafio numa área dominada por homens? Ser nova, mulher e bem-apresentada.

Vantagem: ninguém se esquecia que tinha aparecido na empresa uma mulher a vender camiões do lixo.

Começou por ser “a miúda“, passou a ser “a Juliana” e já está a caminho de ter o apelido e ser referida como “a Juliana Oliveira“.

Continua a assegurar a área comercial – afinal gostava! – e fala da empresa com amor e paixão, porque acredita (a empresa dá dinheiro desde o 1.º ano em que nasceu). Algumas particularidades:

    • Qualquer recrutamento é um desafio. A maioria são para chão de fábrica – serralheiros, mecânicos, … e muita gente não o quer ser.
    • Os cargos de chefias intermédias são só mulheres.
    • Muitas aparecem porque se inspiram nela.
    • Pouca rotatividade por assumir uma gestão muito direcionada para as pessoas.

 

Competências que considera essenciais:

    • acreditar no que se faz, persistência e resiliência;
    • transparência e comunicação com as equipas;
    • felicidade e diversão no trabalho.

Considera-se uma líder emocional. A Olimec é uma história de amor e os valores regem-se pelas pessoas que estão com ela. Tem de se saber dar a mão quando é necessário (permitir o desabafo, escutar, preocupar com as pessoas)

Motivos de orgulho:

    • O caminho.
    • Passar do armazém vazio para os armazéns cheios.
    • De 4 a 40 pessoas.
    • O dia do Olimeco: em junho uma 6ª feira de brincadeira.
    • Serem financeiros e terem conseguido conquistar a credibilidade de mercado (só nós sabemos as pedras no caminho que tivemos.)
    • A assemblagem do 1.º camião 100% elétrico em Portugal

 

É inspirada pelo amor. Começou por amor aos avós, às memórias da infância, à continuidade do legado e fica “inchada” quando os 2 funcionários dizem que se parece com o avô.

Se nunca atirou a toalha ao chão foi porque a mãe a ensinou: “Se te meteste nelas, agora vai.

Estes diálogos abertos da Cátia Mateus, com líderes de empresas, são oportunidades únicas de testemunhos em 1.º mão, que muito podem fazer pela consciencialização, formação de opinião e atuação de todos quantos estão, ou venham a estar, integrados numa organização e, em especial, se estas forem empresas familiares.

Aconselho a escutarem na totalidade este podcast.

Parabéns, Cátia Mateus, pelo “o CEO é o limite” (… do número infinito de pessoas).

 

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