As mudanças no comportamento dos clientes e no uso da tecnologia influenciam a empresa familiar.
Um negócio familiar compete nos mercados em que se encontra inserido, tal como qualquer outra entidade que deseje singrar nos mesmos.
Ao ter subjacente o desejo da continuidade geracional, é importante que os proprietários da empresa familiar tenham presente quais os principais elementos que podem influenciar o futuro no longo prazo.
O estudo “Global family business survey 2019” desenvolvido pela Deloitte, em 2019, solicitou aos participantes que identificassem até três desses fatores, tendo-se sobressaído de forma agrupada:
- A adoção tecnológica no local de trabalho e a mudança de comportamentos dos clientes serão os principais influenciadores do que será o mercado a mais de 10 anos;
- Os novos modelos de negócio, que na maioria das vezes surgem dos processos de digitalização transversais e que permitem o surgimento de novos operadores que abordam o mercado de forma disruptiva, são os três seguintes e expectáveis agentes de evolução;
- As mudanças no mercado de trabalho e as exigências regulamentares, em constante alteração, também são fatores que não podem ser desprezados.
Tendo presente esta envolvente, quer a gestão da empresa, quer a própria família empresária, devem implementar processos de prospetiva, independentes, mas interligados, no sentido de encontraram um via convergente de evolução e continuidade do legado.
“O sol, logo que se levanta, vem pedir à Casa Pereira o seu delicioso café”, é uma das frases que diferenciam alguns sacos e embalagens da loja. Fundada em 1930, numa antiga perfumaria na Rua Garret, a mercearia fina diferenciou-se pela qualidade dos seus produtos e pelo atendimento dos seus funcionários, sempre simpáticos e vestidos a rigor com o fato cinza com o nome do estabelecimento.
A Casa Pereira faz parte dos 63 estabelecimentos comerciais inseridos no programa da cidade “Lojas com História”, mas vai fechar as suas portas até final do ano. António Lemos, empregado que comprou parte da loja ao “Sr. Pereira”, poucos anos após a sua abertura, e o filho José, trabalham na loja há 74 e 42 anos, respetivamente.
Os motivos que suportam a decisão de fechar a casa são:
- Necessidade de se informatizar – um investimento significativo e o reconhecimento de que a adaptação não seria fácil;
- Não existir sucessão – os dois filhos de José não desejam agarrar a loja;
- O cansaço das muitas dezenas de anos de trabalho.
O número de clientes, tendo vindo a diminuir, não é um dos motivos para a decisão de encerramento, pois a faturação ainda cobre as despesas. Este contexto não augura boas as expetativas de futuro e a difícil decisão está tomada: Lisboa perde mais um icónico espaço com história.
Temas para Reflexão:
- Qual a tendência de comportamento futuro dos nossos clientes?
- Estamos tecnologicamente adaptados a dar suporte à evolução do negócio?
- Temos disponibilidade e desejamos enfrentar os desafios para nos mantermos competitivos?
CEO da efconsulting e docente do ensino superior.
Especialista na elaboração de Protocolos Familiares, Planos de Sucessão, Órgãos de Governo, acompanhando numerosas Empresas e Famílias Empresárias.
Orador em seminários, conferências e autor de livros e centenas de artigos relacionados com Empresas Familiares.