A mortalidade de empresas familiares a nível mundial varia entre os 60% a 80%” e não restam dúvidas que um dos principais obstáculos à sobrevivência destas estruturas tem que ver com a sucessão, revelou ontem Miguel Ángel Gallo, um dos maiores especialistas europeus em empresas familiares, no Salão Nobre da Câmara Municipal da Maia, no âmbito da sua intervenção na conferência “A Sucessão da liderança na Empresa Familiar”.

O evento, organizado pelo JN, TSF e EFConsulting, em parceria com a Citroën, foi o primeiro de um ciclo de cinco conferências relacionadas com a temática das Empresas Familiares.

Nesta primeira edição, estiveram ainda presentes, em formato de mesa redonda e de partilha de testemunhos, Luís Portela, Chairman da Bial, João Serrenho, Presidente do Conselho e Administração da CIN, Peter Dawson, Administrador da Garland e Filipe Azevedo, Presidente do Conselho de Administração da Lucios.

Para o orador principal, Miguel Ángel Gallo, professor do IESE – Business School University of Navarra, presidente do Family Business Consulting Group (Espanha) e presidente honorário da International Family Enterprise Research Academy, “em vez de falarmos de sucessão, deveríamos falar de convivência”, já que, na prática, “a sucessão não passa de um largo período de convivência entre diferentes gerações”, defendeu.

Mas não é por acaso que este aspecto deve merecer particular atenção por parte das famílias empresárias. Para Miguel Ángel Gallo não restam dúvidas: “é bastante mais difícil a convivência no seio de uma empresa familiar do que a revitalização estratégica de um negócio”. Enquanto a primeira depende da sociologia e dos comportamentos – muitas vezes subjetivos e até controversos – dos indivíduos, a outra depende da economia, algo claramente mais pragmático e com menor grau de subjetividade.

Para o especialista, há duas virtudes-chave para levar a cabo com sucesso a convivência: confiança e compreensão. “Sem se confiar uns nos noutros é impensável trabalhar em equipa. E o período de convivência familiar é, precisamente, um trabalho de equipa e para que esse trabalho seja levado a cabo, a confiança é um ingrediente indispensável”. Até porque, sublinha, “quando a confiança se rompe numa organização é impossível reconstruí-la. Se ela deixa de existir entre as pessoas, não é impossível recuperá-la mas está muito dependente do verdadeiro esforço e querer individual de cada membro envolvido”.

Relativamente ao outro aspecto – a compreensão – Miguel Ángel Gallo lembra que “para compreender o outro há que estar disposto a escutar e a entender a outra parte, o feitio do outro, a maneira de ver e o porquê do comportamento do outro. Afinal, como podem trabalhar juntos se, entre eles, não se conseguem compreender?”, questionou.

O vice-presidente da Câmara Municipal da Maia, Silva Tiago, partilhou a “convicção de que a resolução da sucessão não pode ser encarada como um problema, mas sim como um desafio que pode mesmo conduzir à inovação e ao crescimento das empresas”. Enquanto David Pontes, subdiretor do JN, defendeu que a “Maia é o cenário natural” para a realização desta iniciativa por se tratar de “um concelho muito dinâmico a nível empresarial e concretamente no que diz respeito às empresas familiares”.

Já António Nogueira da Costa, sócio da efconsulting, referiu que “todos reconhecemos o papel importante das empresas familiares no tecido empresarial” e destacou que estas “estão em todos os setores de atividade”. Se sairmos do litoral são elas as “principais geradoras de riqueza” chegando, por vezes, a estar instaladas em locais que ninguém queria estar”.

Pedro Ortigão Correia, administrador da AICEP, não tem dúvida que “o nosso futuro económico está muito dependente destas empresas que, por seu turno, está diretamente ligado à performance de governação das famílias empresárias”. Em jeito de conselho, defendeu o “foco” e a “resiliência” como as principais características pessoais de gestão nas empresas familiares.

A 24 de setembro será a vez de Braga acolher a segunda conferência com o tema “A relação com os acionistas e a sucessão patrimonial na empresa familiar”.

 

Conferência a “Sucessão da Liderança nas Empresas Familiares” (Maia, 9 de julho de 2015). Uma organização conjunta da EFConsulting, JN e TSF, com parceria da Citroen e reportagem completa na edição do JN de 11 de julho

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