Na oficina familiar em São João das Lampas, Sintra, em 1921, um hábil e engenhoso artesão de nome José Francisco Justino decidiu fundar uma empresa especializada no fabrico de arados e charruas de tração animal, carroças e carros de bois, que denominou de Galucho. E durante décadas manteve a área de ação num âmbito regional, embora a partir da década de 40 tenha começado a apostar no fabrico de semi-reboques, porta-contentores e porta-máquinas.
Em 1957, o patriarca morre, deixando entregue aos cinco filhos (20% a cada um e a função de sócio gerente) a sucessão patrimonial do negócio. Um tema que será debatido, na próxima quinta-feira, em Viseu, no âmbito da segunda conferência do ciclo “Empresas Familiares”, organizada pelo JN e TSF.
Da reparação ao fabrico
Os novos donos da Galucho apostam, então, em dar o salto tecnológico, acompanhando a mecanização da agricultura portuguesa.
A primeira aposta recai na reparação das máquinas agrícolas, a maioria importada, demasiado frágeis para a dureza dos solos portugueses, mas rapidamente percebe que pode ir mais longe e começa a fabricar maquinaria, não só mais adequada às exigências da lavoura em Portugal, como também a um preço bastante competitivo. A marca vai assim ganhando prestígio a nível nacional, sendo uma das “responsáveis” pela modernização da nossa agricultura.
Nesta mesma década, a fábrica mudou para as instalações definitivas, iniciando a produção de grades de disco pesadas, inicialmente destinada aos agricultores do Ultramar, mas que abriu as portas de outros mercados internacionais em África, Médio Oriente e Europa, com presença regular em feiras internacionais do setor agrícola.
A década de 80 foi de consolidação no mercado europeu, com a Galucho a tornar-se num dos mais importantes fabricantes do Velho Continente. A expansão da marca levou-a a abrir uma filial em Albergaria-a-Velha.
Luta pelo poder
Mas pontos de vista antagónicos sobre atos de gestão da empresa, levaram quatros dos irmãos a associarem-se e a excluírem João Francisco Justino da sociedade, no entanto, este acabou por ficar com a sua posição proprietária.
Em 2006, com o controlo de mais de 52% do capital, por compra da posição de dois irmãos, regressa à empresa, que presidiu até à sua morte, em agosto de 2014.
Já em fevereiro deste ano, o seu filho José Justino assumiu o cargo de presidente do conselho de administração, seguindo as pisadas do pai e do avô.
PS de António Costa: Esta sequência de passagens de propriedade e suas implicações, são uma parte essencial do tema da conferência de Viseu, confirmando a importância do planeamento da gestão das transições acionistas.
Publicado em http://empresasfamiliares.jn.pt 2014/09/28 integrado no âmbito da conferência “A relação com os Acionistas e Sucessão na Propriedade da Empresa Familiar”
CEO da efconsulting e docente do ensino superior.
Especialista na elaboração de Protocolos Familiares, Planos de Sucessão, Órgãos de Governo, acompanhando numerosas Empresas e Famílias Empresárias.
Orador em seminários, conferências e autor de livros e centenas de artigos relacionados com Empresas Familiares.