Famílias Empresárias: 7 mitos e uma esperança
Estima-se que ainda só se explorou 5% dos oceanos e que 95% do universo ainda é uma grande incógnita. Em vez de paralisar, isto constitui um incentivo à criação e à construção de novo conhecimento.
Em tempo de incertezas, o que ignoramos é muito mais basto daquilo que sabemos, mais que nunca devemos interrogar-nos para poder identificar novos horizontes e, a partir daí, criar uma realidade que seja melhor para todos.
No âmbito das empresas familiares existem 7 mitos recorrentes que limitam, não somente a nossa no compreensão, como dificultam as possibilidades infinitas de continuar a crescer em harmonia.
1. A sucessão não é uma mudança do líder. Se fosse somente isso, não se escreveriam tantos textos nem geraria grandes desafios realizá-lo com sabedoria. A sucessão implica tempo e cuidados. Tanto a pressa como a improvisação são tremendamente danosas e dolorosas. A preparação das e dos possíveis candidatos/as, a identificação e passagem do legado material e imaterial, o gerar as dinâmicas para que o antigo líder possa continuar a contribuir (as gerações passadas podem ser grandes conselheiros), são somente algumas das suas dimensões.
2. Todos possuem trabalho assegurado. Para um membro da família assumir na empresa familiar um cargo executivo deve ter as competências, capacidades e interesses para contribuir para os objetivos da empresa familiar. No entanto será sempre parte desta, pelo que tem a obrigação de ser um acionista informado e responsável.
3. Quando há confiança, não é necessário escrever tudo. Palavras leva-as o vento. As melhores práticas de empresas familiares dizem ser fundamental deixar os acordos por escrito: sejam as atas das reuniões da administração ou um protocolo familiar que defina os grandes temas que guiam a família empresária. Desta forma comunica-ser melhor as decisões e evitam-se conflitos futuros.
4. A empresa é sempre mais importante que a família. Não se trata de qual é mais importante, mas de conceber a família e a empresa como duas entidades distintas que se complementam. Para alcançar este objetivo é necessário ter um governo corporativo regido por regras que priorizem o negócio mas guiado pelos valores da família.
5. As empresas familiares são pequenas. Existem pequenas, médias e grandes empresas familiares. Ainda que muitas se vão transformando, sabemos que no Chile 78% das empresas são familiares, segundo o evidenciado pelo estudo “Radiografía de empresas familiares en Chile” que realizamos junto a colegas da UDD (Universidad del Desarrollo). Também sabemos que os seus índices de rentabilidade e de resiliência à crise são maiores.
6. Prosseguir fazendo o mesmo é suficiente. Uma empresa familiar com êxito no presente pode acreditar que a continuidade da fórmula do passado é tudo o que é necessário. Não restam dúvidas de que as mudanças e as crises permanentes obrigam as empresas familiares a serem flexíveis e a enfrentarem com profissionalismo os desafios. Conservar a essência e inovar para aproveitar as oportunidades parece ser a fórmula diferenciadora.
7. As empresas familiares funcionam como pequenos feudos. Em mercados altamente competitivos e sociedades com desafios comuns complexos, nenhuma empresa pode sobreviver a olhar para o umbigo. De forma peculiar, as famílias empresárias de sucesso constroem vínculos profundos com as comunidades em que estão inseridas, contribuindo não só como uma excelente fonte de trabalho, mas também com práticas de responsabilidade ambiental e de co-construção de uma sociedade melhor.
A esperança aludida no título deste artigo atende a que, neste tempo de transformações, as famílias empresárias também devem contribuir e espero que o façam a partir da sua robustez. Nem as desigualdades, nem a Constituição que se está a escrever, nem as mudanças climáticas, nem os problemas de seca que enfrentamos podem resolver-se só com o contributo de alguns, necessitamos do compromisso de todas e de todos.
A partir dessa energia criativa de resgatar perspetivas diversas e legados intergeracionais, o presente surge repleto de oportunidades. Que a lucidez, a humildade, a vontade e o amor estejam connosco.
Gonzalo Jiménez Seminario
CEO da Proteus Management, Governance & Effectuation. Professor de Engenharia UC.
Artigo publicado em Diario Estrategia (Chile), em 2022/02/17, reproduzido com autorização do autor e tradução do António Nogueira da Costa
CEO da efconsulting e docente do ensino superior.
Especialista na elaboração de Protocolos Familiares, Planos de Sucessão, Órgãos de Governo, acompanhando numerosas Empresas e Famílias Empresárias.
Orador em seminários, conferências e autor de livros e centenas de artigos relacionados com Empresas Familiares.