Que maior compromisso pode existir com a empresa do que dar-lhe o nome dos filhos e da família?
A conversa de Ricardo Alves, CEO da Riberalves, com a Cátia Mateus no podcast “O CEO é o limite“, merece ser apreciada na sua totalidade, pelo que incentivo essa ação destacando alguns pontos da mesma, em especial os associados às envolventes de empresa familiar e de família empresária®.
RIcardoBERnardoALVES surgiu de sugestão de um amigo do pai.
A matéria-prima – o bacalhau – é ponto fulcral da empresa:
- aquisição anual de 30 mil a 40 mil toneladas de bacalhau (o dobro se for “em vivo”) concentra-se em 3 a 4 meses,
- esta quantidade representa cerca de 75% dos principais custos da empresa e
- 7% a 10% da quota mundial de bacalhau.
O espírito comercial vem dos avós que tinham uma mercearia e o pai desenvolveu a Garrafeira do Oeste (comprada ao avô materno), onde o bacalhau já era produto de eleição, antes de se dedicar ao negócio do bacalhau.
O Ricardo considerava-se um miúdo pacato, com muito apoio familiar, que acompanhou o nascimento da empresa do bacalhau demolhado.
Os pais sempre foram perspicazes:
- viviam a pensar no negócio – o que fazer de diferente para crescer;
- o pai sempre gostou de comprar e de vender;
- a mãe foi o grande suporte na área financeira.
Não sentiu pressão para onde se direcionar do ponto de vista académico, no entanto, licenciou-se em Engª Alimentar e fez formação especializada de 6 meses em Londres, no meio de 300 alunos de múltiplas nacionalidades.
Estagiou 6 meses fora da empresa familiar e, quando o pai decidiu comprar uma empresa na Moita – principal fábrica na atualidade – convidou-o para ir para a mesma.
Hoje teria passado mais 2 ou 3 anos fora, pelo que aos mais novos recomendaria que saiam – de casa, do país – para ganhar autonomia e mundo.
Bacalhau demolhado:
- inícios de 2000;
- produto muito tradicional, pelo que a ideia foi do pai baseada no pressuposto de que não faz sentido ter de esperar 2 dias após a compra antes de comer o produto;
- 1 º lote estragou-se por erro de processo – fez parte da aprendizagem;
- não teve boa aceitação no mercado, em especial na restauração, mas foi fundamental acreditar;
- em 2002 a aquisição da fábrica foi para quadruplicar a capacidade de produção: hoje representa cerca de 75% das vendas e permitiu a internacionalização, criar e diferenciar uma marca.
No negócio que gere é crucial conhecer muito bem o produto, a matéria-prima e o processo, pelo que teve de passar por tudo.
Considera relevante:
- a maneira como se comunica: as maiores dificuldades foram na gestão de pessoas;
- um equilíbrio entre manter o produto tradicional e inovar para enfrentar o futuro.
A sucessão na liderança: “é um processo que se vai construindo“. No caso deles:
- foi pacífico, preparado e demorou cerca de 4 anos;
- irmão faz parte do CA do grupo e é CEO do negócio do vinho, através da Adega Mãe, e do imobiliário;
- os pais continuam a ir à empresa;
- solicitaram ajuda externa.
Teve dúvidas se estaria preparado para assumir a liderança, mas a dedicação e o amor pela empresa e negócio existe: acorda sempre com vontade de ir trabalhar.
Se estamos a gerir bem? Estamos sempre com dúvidas.
- Assume-se como um líder de proximidade, que gosta de estar rodeado de pessoas que sejam boas naquilo que façam.
- Gosta de liderar pelo exemplo: vai muito aos países dos seus fornecedores e onde têm escritórios.
- Para evoluir gosta da crítica construtiva e de ser avaliado pela equipa.
Pertence aos Next in Line da Associação das empresas familiares, onde a partilha de experiências é relevante.
O contexto de uma família unida incutiu valores como o respeito, ajudar o próximo, dedicação, resiliência – se continuares a fazer aquilo que gostas os resultados vão chegar.
Slogan dos 40 anos: “Da nossa família para a sua”
Distribuíram bónus num momento de crise: as empresas são as pessoas, se estiverem motivadas são mais produtivas.
Dificuldade em recrutar e reter pessoas: negócio não é muito atrativo (peixe, água, frio, …) pelo que possuem boas condições e meio ambiente adequado.
O que nunca pode falhar no negócio: qualidade e serviço.
Possui 3 filhos e 2 sobrinhos: como será a sucessão?
Espero que a empresa seja deles e bem gerida, mesmo com gestão externa:
- 500 famílias dependem de nós;
- as regras foram criadas até à 2ª geração;
- não têm de ser os nossos filhos obrigatoriamente, se necessário pode ser externa;
- se for interna: ter experiência fora da empresa, aprender, passar por um processo de chão de fábrica, ser trabalhador, gostar do que fazem, …
O que o inspira: ver pessoas felizes na empresa, ouvir um obrigado da equipa.