Um dia a empresa será tua, se não for comprada por um fundo de investimento
Esta afirmação de um pai para o filho, apresentada por Jordi Tarragona e ilustrada por JL Martín no livro “Empresa Familiar con humor” (2022, Profit Editorial), reflete dois aspetos muito relevantes com os quais uma empresa familiar se defronta em algum momento da sua existência:
1. O desejo de passar a empresa à geração seguinte: objetivo inerente à grande maioria das empresas familiares e das famílias empresárias que as controlam;
2. A continuidade passar por uma entidade externa à família: algo intrinsecamente não desejável, até que um dia …
O primeiro acontecimento, na maioria das vezes ilustrado pela palavra “sucessão”, é um desafio inevitável e assegurado pela natureza da vida humana. Ultrapassar este desafio está nas mãos de todos e vai ser alcançado por uma das seguintes vias:
- nada fazer: adiar – é uma decisão e um processo difícil – e deixar que algo aconteça de forma natural, muitas vezes de forma inesperada, e logo se resolverá.
- planear a sua ocorrência: preparar potenciais sucessores, selecionar, passar o testemunho e deixar a nova geração assegurar as condições competitivas para assegurar a sua continuidade.
Se nada se fizer, um dia a empresa vai cair nas mãos dos herdeiros que, se não estiverem devidamente habilitados – esperemos que tenham pelo menos consciência disso -, ponderarão alienar a empresa para o bem de todos: acionistas, família, empregados e restantes stakeholders.
Nesta situação, o tempo costuma ser inimigo: quanto mais tempo se tardar maior o risco de o seu valor se reduzir; e, quanto menos se conhecer da empresa, maior a probabilidade de se aceitar uma oferta que, noutro contexto, poderia ser muito mais favorável.
A alternativa de planear a sucessão apresenta diversas vantagens:
- conseguir assegurar uma liderança do negócio, com pessoas da família ou externos, que permita manter a propriedade sob o controlo familiar;
- permitir concluir que o melhor para todos é vender a empresa e, então, preparar a mesma e ter tempo para encontrar o comprador que mais a valorize;
- preparar os herdeiros para qualquer uma das soluções referidas, em especial para saberem ser acionistas e viver de dividendos periódicos ou, receberem uma significativa quantidade de dinheiro de uma única vez e saberem investir para assegurar rendimentos e bem-estar futuros.
A título ilustrativo recordo as notícias das transações que envolveram a venda por parte das famílias empresárias fundadoras das respetivas empresas:
- Frulact: Família Miranda, 1987, liderança executiva na 2ª geração, vendida a fundo de investimento ao fim de 33 anos;
- Ferreira de Sá: Família Ferreira de Sá, 1946, liderança executiva na 3ª geração, vendida a fundo de investimento ao fim de 73 anos;
- Frezite: Família Fernandes, 1978, liderança executiva na 2ª geração, vendida a empresa familiar ao fim de 44 anos.
e um exemplo de uma família que se mantém irredutível no seu reduto de “Campo Maior” e na sua vontade de controlo total do grupo:
- Delta: Família Nabeiro, 1961, liderança executiva na 3ª geração, resistente às recorrentes investidas para aquisição.
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Venda da Frulact ao fundo Ardian terá envolvido montante superior a 150 milhões de euros
A Frulact gere oito fábricas espalhadas por cinco países: Portugal, França, Marrocos, África do Sul e Canadá e tem um volume de negócios anual na ordem dos 115 milhões de euros.
“A ‘private equity’ Ardian anunciou a assinatura do acordo para a compra de 100% da Frulact, a empresa portuguesa dedicada ao fornecimento de ingredientes de valor acrescentado para as indústrias alimentares e de bebidas,…”
A venda da empresa portuguesa, liderada pela família Miranda, ao fundo de investimento francês Ardian terá envolvido um montante superior a 150 milhões de euros, incluindo dívida, apurou o Jornal Económico. No entanto, as empresas envolvidas não avançam, nem confirmam, os valores da operação.
(fonte: https://jornaleconomico.pt/noticias/venda-da-frulact-ao-fundo-ardian-rondou-200-milhoes-de-euros-535794, 2020/01/15)
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Espanhola Sherpa compra fabricante portuguesa de tapetes de luxo
Após 73 anos nas mãos do clã Ferreira de Sá, a empresa Tapeçarias Ferreira de Sá, que emprega cerca de 150 pessoas, foi agora maioritariamente adquirida pela “private equity” espanhola Sherpa Capital, que, em comunicado, enfatiza que a família fundadora continuará na companhia como “acionista minoritária e envolvida na gestão dos negócios.”
(fonte: https://www.jornaldenegocios.pt/empresas/industria/detalhe/espanhola-sherpa-compra-fabricante-portuguesa-de-tapetes-de-luxo, 2019/11/06)
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Frezite da Trofa comprada por suecos da Sandvik
O grupo industrial da Trofa foi comprado, em 100%, pela família sueca Sandvik.
Com cerca de 450 trabalhadores, a histórica empresa especializada em ferramentas de corte vai passar a ser uma unidade de negócios da divisão de soluções para máquinas industriais da Sandvik.
“Atualmente enfrentamos tempos que trarão novos níveis de competitividade a fatores como a escala e a flexibilidade do negócio. Novos materiais, a digitalização, novas tecnologias de fabrico e a globalização fizeram-nos pensar em avançar com um parceiro como a Sandvik, uma decisão que será benéfica para todos nós”, justifica o fundador, José Manuel Fernandes.
(fonte: https://eco.sapo.pt/2022/06/27/frezite-da-trofa-comprada-por-suecos-da-sandvik/, 2022/06/27)
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Rui Nabeiro: O patrão que mandou passear a Nestlé e a Pepsi
Retrato de um patrão que mandou passear a Nestlé e a Pepsi, preferindo sacrificar a rentabilidade a despedir trabalhadores: Eis Rui Nabeiro, o herói do Alentejo.
O Patriarca recusou todas as propostas porque a empresa “pertence a todos os que trabalham lá”, como diz habitualmente Rui Nabeiro. “Criar um posto de trabalho é criar riqueza para todos. Eu nunca pensei em mim, mas sempre procurei servir aqueles que me servem, é esta atitude que me deu o que eu tenho hoje”
(fonte: https://www.tribunaalentejo.pt/artigos/rui-nabeiro-o-patrao-que-mandou-passear-nestle-e-pepsi , 2016/04/29)
Rui Nabeiro, o homem que enfrentou a vida com um sorriso nos lábios
Rui Nabeiro é o único dos multimilionários portugueses que começou verdadeiramente do zero. A partir de Campo Maior, a pequena vila alentejana onde nasceu há 90 anos, erigiu um império, o Delta Cafés, que é hoje cobiçado pelos grandes tubarões internacionais do setor, como a Nestlé ou a PepsiCo. Nunca o quis vender porque, como disse à SÁBADO, ficaria sem o seu único entretenimento: trabalhar.
CEO da efconsulting e docente do ensino superior.
Especialista na elaboração de Protocolos Familiares, Planos de Sucessão, Órgãos de Governo, acompanhando numerosas Empresas e Famílias Empresárias.
Orador em seminários, conferências e autor de livros e centenas de artigos relacionados com Empresas Familiares.