Em 1987 eu e os meus dois irmãos criámos a nossa empresa. Ao longo destes 30 anos dedicámos o melhor das nossas vidas ao sucesso deste projeto de que nos orgulhamos muito, pois hoje temos uma empresa que é uma sociedade anónima sólida, com 70 trabalhadores e que é detida totalmente e em partes iguais pelos três irmãos.
Conseguimos igualmente manter um forte espírito de união, o que nem sempre foi fácil. Está a chegar a altura de passar o testemunho (assegurar a sucessão), mas todos queremos que o negócio se mantenha na família. Todos temos filhos, sendo que uns trabalham na empresa e outros não. Como fazer?
Em primeiro lugar, é de louvar a vossa capacidade de desenvolverem uma empresa robusta e sustentável e de se manterem unidos em torno do negócio familiar ao longo de todos estes anos. É um excelente prenúncio para os próximos passos.
É importante ter a noção de que, sendo o negócio familiar, os membros dos diferentes ramos da família terão as suas expectativas quanto ao futuro da empresa, que serão forçosamente diferentes, nomeadamente no que respeita aos que lá trabalham em relação aos restantes.
A figura do protocolo familiar, ao estabelecer regras quanto à transmissão da propriedade (sucessão na propriedade), é um instrumento da maior importância para garantir exatamente esse vosso objetivo de manter o controlo na família.
Precisaríamos de saber mais sobre a composição dos diferentes ramos da família, mas aconselhamos, antes de mais nada, que os três irmãos reúnam de forma a equacionarem o desenvolvimento desse mesmo protocolo familiar e definirem claramente, no capítulo respeitante à transmissão da propriedade, quais as regras que os acionistas terão de cumprir de forma a minimizar o risco de a empresa sair das mãos da família.
Assim, poderão estabelecer uma ordem de prioridade para a venda ou transmissão de ações, definindo por exemplo que:
- Os membros do mesmo ramo familiar têm direito de preferência sobre todos os outros;
- Se nenhum dos membros estiver interessado ou não puder participar na aquisição das ações, então outros acionistas poderão “ir a jogo”;
- Ou então que seja a própria empresa a adquirir as ações propostas para venda;
- E só por fim, e mesmo neste caso podendo haver penalizações, permitir que as ações sejam colocadas no mercado.
Podem estar seguros que, ao definirem as regras de funcionamento da empresa familiar e da relação da família com o seu negócio, nomeadamente quanto à questão colocada, irão sentir verdadeiramente que o vosso projeto de vida irá ter muito maiores garantias de continuidade e verão todo o vosso esforço de uma vida recompensado quanto ao futuro.
Nota: Este texto faz parte da coluna “Empresas Familiares – Perguntas e Respostas“, publicada no jornal “Metal” de 22 de dezembro de 2017
CEO da efconsulting e docente do ensino superior.
Especialista na elaboração de Protocolos Familiares, Planos de Sucessão, Órgãos de Governo, acompanhando numerosas Empresas e Famílias Empresárias.
Orador em seminários, conferências e autor de livros e centenas de artigos relacionados com Empresas Familiares.