Somos 3 irmãos a trabalhar na empresa, detida e liderada pelos nossos pais, sendo que temos todos os mesmos benefícios e de forma igualitária (salários, carro e seguros de saúde). O meu irmão Manuel teve agora o 1º membro daquela que será a 3ª geração familiar e 1ª neta na família. Estamos todos felizes, mas eu e o meu irmão não gostamos de uma atitude dos nossos pais: subiram o ordenado do Manuel em 30% justificando que ele agora vai ter mais gastos. É normal este tipo de comportamento nas empresas familiares?
A situação que descreve tipifica uma política de gestão de pessoas que nos permitimos apelidar de “filhos colaboradores”. A sua principal caraterística é tratar a remuneração – algo que deve compensar o trabalho efetivo da pessoa na empresa -, com os princípios familiares da “semanada” – tratar os filhos por igual e de acordo com os seus gastos (por exº se está a estudar fora receber mais).
Esta prática encontra-se desde logo refletida na igualdade de compensação dos 3 irmãos por trabalharem na empresa, sem atender à formação, funções, experiência, anos de trabalho, etc. e, de forma natural, quando os gerentes atuam como pais e assumem a diferenciação aquando do nascimento da sua sobrinha – um acontecimento familiar que provocou um aumento salarial.
No pensamento dos seus pais esta atitude parece a mais adequada, mas vocês já estão a sentir que pode não ser a mais justa. Assim, na ótica da empresa e pensando mesmo no seu futuro e continuidade nas mãos da família, esta não é uma normalmente uma boa política de remuneração, pelo que aconselhamos à sua alteração por uma baseada na meritocracia.
Não devem ser critérios familiares (emotivos) a definir práticas da empresa (racionais), no entanto, se a desejarem manter, devem acordar e implementar critérios subjacentes e sua aplicabilidade: alteração por cada neto que nasça, entrada na escola pública ou privada, ter ou não abono de família, …
Nota: Este texto faz parte da coluna “Empresas Familiares – Perguntas e Respostas“, publicada no jornal “Metal” de 26 de janeiro de 2018
CEO da efconsulting e docente do ensino superior.
Especialista na elaboração de Protocolos Familiares, Planos de Sucessão, Órgãos de Governo, acompanhando numerosas Empresas e Famílias Empresárias.
Orador em seminários, conferências e autor de livros e centenas de artigos relacionados com Empresas Familiares.