Líderes, negociadores ou inovadores: como a ordem de nascimento molda a dinâmica das empresas familiares

Um dos fatores que se determinaram como dos mais influentes, quando se trata de entender a dinâmica nas equipas de irmãos, é a ordem de nascimento. O lugar na sua geração pode influenciar o funcionamento, os padrões das relações consanguíneas e não consanguíneas e os valores que a pessoa transmite à sua próxima geração.

Embora tenha sido amplamente discutida entre especialistas em ciências comportamentais, as mudanças aceleradas nos conceitos estruturais na família e na sociedade (controle da natalidade, reivindicação da mulher, diversidade e inclusão sexual) fazem com que as hipóteses da influência da ordem de nascimento entre irmãos sejam constantemente revistas e questionadas.

Portanto, o que veremos a seguir são generalidades que podem ser extrapoladas para a maioria dos casos, levando em conta que é muito provável que a particularidade de cada indivíduo tenha um reflexo diferente na sua realidade.

Dois dos aspetos que definitivamente parecem ter um impacto no tipo de relacionamentos são o tempo que passam juntos durante a infância e a separação entre nascimentos: quanto mais próxima, mais profunda a relação. De facto, em grandes grupos de irmãos, subgrupos ou alianças mais próximas tendem-se formar entre aqueles que nascem em períodos mais próximos [1].

Por outro lado, a perceção dos valores varia porquanto esta ordem de nascimento está associada à criação da riqueza do núcleo familiar, especialmente se essa riqueza relaciona a propriedade emocional com a criação de uma empresa ou património familiar, ainda mais se existirem muitos filhos com nascimentos separados numa linha temporal prolongada.

Não é o mesmo ser filho/a de um empreendedor/a numa startup como o ser numa fase de crescimento ou de maturação do negócio.

A isto podemos associar o desfasamento dos ciclos de vida como outro elemento que influencia significativamente as relações entre irmãos nas empresas familiares ao longo do tempo. Os períodos críticos são a entrada para as fases de juventude e maturidade, quando as necessidades do indivíduo são contrastadas com as possibilidades do resto do sistema. A necessidade de melhorar a comunicação e encontrar um equilíbrio entre os dois requisitos é essencial para garantir o bom funcionamento.

Por outro lado, a meia-idade, período em que o regresso ao trabalho já foi ultrapassado e em que cada pessoa se concentra na criação da sua própria família, é uma fase descrita como “um momento doce para os irmãos” [2].

A seguir, analisa-se mais de perto cada um dos três casos emblemáticos de ordem de nascimento numa constelação de irmãos, com base na literatura disponível e, sobretudo, nas observações reunidas ao trabalhar com famílias empresárias de irmãos por mais de duas décadas.

IRMÃOS MAIS VELHOS: Líderes

Os primogénitos são frequentemente conhecidos por seu sentido de responsabilidade, lealdade e liderança. De acordo com alguns estudos, os irmãos mais velhos superam o resto dos irmãos em 16% em cargos de CEO em empresas familiares. Da mesma forma, a prevalência de membros não familiares em estruturas de controlo e de supervisão é maior em empresas controladas por não primogénitos [3].

Normalmente, podemos encontrar personalidades associadas a perfis com características que facilitam o exercício da autoridade e do comando. Tendem a não querer ver as zonas intermédias de discussão e preferem os extremos das decisões. Eles são “organizados e confiáveis. Muitas vezes são perfecionistas” [4].

Nesta posição, um irmão mais velho geralmente não é o mesmo que uma irmã mais velha. Embora a irmã tenha geralmente os mesmos sentimentos genuínos de responsabilidade e cuidado com os restantes irmãos, nos contextos socioculturais em que tive a oportunidade de trabalhar com empresas familiares, ela não costuma receber privilégios ou reconhecimento autoritário igual aos homens. Uma irmã mais velha pode até ser preterida na liderança, em detrimento de um irmão mais novo ou do meio, simplesmente porque ser homem.

A “programação” que um irmão mais velho recebe da sua família tende a criar expectativas elevadas que o impedem de assumir adequadamente as críticas e o custo dos fracassos. São frequentemente responsáveis pelo funcionamento ou supervisão do sistema. Tendem a ser altamente influentes, levados a sério por si e pelos outros, e tendem a exibir uma autoconfiança significativa.

A expressão latina primus inter pares é usada nestes casos em que, tecnicamente, o irmão mais velho é igual aos outros, em termos de privilégios familiares, mas goza de outros benefícios associados à sua autoridade e liderança na empresa de propriedade partilhada, e esta condição é aceite relativamente por todos para o bom funcionamento do sistema.

Nas empresas familiares, isso representa uma grande vantagem, pois permite uma liderança definida e coesão em torno da sua figura, mas acarreta riscos inerentes associados à transferência de privilégios para o subsistema familiar, ao isolamento do líder, ao ressentimento e ao desgaste devido à falta de reconhecimento em alguns casos. Quando as coisas vão bem, a figura do irmão mais velho serve para aqueles que precisam de liderança funcional, mas quando as coisas estão mal, os outros irmãos sempre poderão jogar a carta que diz: Mas quem achas que és? Não és meu pai!

IRMÃOS MAIS NOVOS: Inovadores

Os últimos serão os primeiros… em privilégios. Ser o irmão mais novo costuma proporcionar vantagens: maior liberdade, menos responsabilidade, mais espaços para a criatividade, uma vida protegida e melhor disponibilidade de recursos. Geralmente têm a sensação de serem especiais e mimados pelo resto da família, um sentimento que aumenta à medida que o número de irmãos aumenta, bem como a distância entre o mais novo e aquele imediatamente anterior.

À medida que o número de irmãos cresce, os últimos tendem a tornar-se mais independentes dos restantes. Isto permite-lhes transgredir algumas regras, escapando a reclamações, a propor ideias inovadoras e, em geral, a envolver-se na mudança.

Nas empresas familiares, pude perceber um fenómeno que se repete em algumas ocasiões: se o filho mais novo está muito distante dos restantes irmãos, parece haver uma coincidência entre a necessidade da mãe de reter o marido numa fase da relação que se encontra muito deteriorada e distanciada como casal.

Num esforço (consciente ou não) da mulher para trazer o marido de volta, reavivar a convivência dos primeiros anos e evitar situações vividas nessa fase pelos pais, como separações, envelhecimento ou morte [5], o filho mais novo aparece na vida conjugal, entrando em competição com a atenção que o pai dá, em maior medida, à empresa. Isso pode gerar no filho mais novo um sentimento de culpa ou questionamento da sua razão de existir, até mesmo sentimentos de rejeição e ódio relativamente à empresa familiar. É necessária mais investigação e estudo sobre este tema.

IRMÃOS DO MEIO: Negociadores

O padrão funcional com o qual os irmãos localizados no meio da sequência de nascimento são geralmente identificados é o de negociador.

Tendem a ser mais equilibrados, menos teimosos que os irmãos mais velhos e não tão indulgentes como os mais novos. Também podem ser caracterizados por serem mais sociáveis e cultivarem muito bem as amizades.

No entanto, não tendo uma função tão bem definida como a dos extremos, em muitas situações podemos encontrar irmãos do meio a sentirem-se perdidos ou negligenciados pela família, especialmente se forem todos do mesmo sexo, por não terem um papel específico.

Uma última informação: devido ao número de crianças nas famílias modernas, estatisticamente falando, há cada vez menos irmãos do meio em todo o mundo [6].

CONCLUSÕES

A ordem de nascimento desempenha um papel significativo nas dinâmicas familiares, especialmente no contexto das empresas familiares. Apesar dos desafios colocados pelas mudanças socioculturais e estruturais, observa-se que o tempo que os irmãos passam juntos durante a infância e a separação entre nascimentos impactam profundamente a natureza de suas relações.

Embora as generalidades apresentadas neste artigo forneçam um quadro para a compreensão das dinâmicas familiares, é essencial reconhecer a singularidade de cada indivíduo e o seu impacto na realidade específica de cada família. A investigação contínua e a adaptabilidade às mudanças na sociedade são fundamentais para compreender plenamente a complexidade das relações entre irmãos no contexto das empresas familiares.

No meu livro “Genogramas na Empresa Familiar: Uma Ferramenta para Consultores que Querem Compreender as Relações Familiares“, pode encontrar mais informação sobre este e outros tópicos relacionados com a compreensão das relações empresariais familiares, e como interpretá-las através da análise de genogramas.

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Em termos genéricos, trata-se de uma atividade conjunta de toda a família empresária®, numa fase prévia, ou inicial, do processo de desenvolvimento do protocolo familiar, com os seguintes objetivos:

  1. Construir a árvore genealógica da família
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  5. Envolver todos numa dinâmica interessante e demonstrar que muitas outras podem existir para solidificar a coesão familiar.

 

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[1] Monica McGoldrick McGoldrick, M., et al. (2008). Genograms: Assessment and Intervention. 3rd Edition. W.W. Norton & Co. New York, NY, USA. 380 pp.

[2] Manuel Pavon Ph.D. Pavón, M. et al. (2008). Empresas Familiares de Hermanos: Claves de éxito para el trabajo en equipo. Garrigues Empresa Familiar. Madrid, España, 52 p.

[3] Judy Green, Ph.D. Green, J. (2023). Not All Created Equal: Examining the Impact of Birth Order and Role Identity Among Descendant CEO Sons on Family Firm Performance. Resumen de investigación aplicada preparada por Judy Green. Autores: Mark T. Schenkel, Sean Sehyun Yoo, y Jaemin Kim.

[4] Leonardo J. Glikin Glikin, L. (2014). Los hermanos en la empresa de familia. Una clave para la supervivencia de las PYMES. Aretea Ediciones. Buenos Aires, Argentina. 253 pp.

[5] Juan Luis Linares Carmen Campo Campo, C. y Linares, J. L. (2002). Sobrevivir a la pareja. Problemas y soluciones. Planeta Prácticos. Barcelona, España. 200 pp.

[6] Richardson, R. y Richardson, L. (1999). Tu Carácter según el orden de Nacimiento. De qué manera el sexo y la posición en la familia afectan a tu personalidad y tus relaciones. Urano Bolsillo. Barcelona, España. 277 pp.

 

Artigo de Guillermo Salazar. Sócio-gerente da Exaudi Family Business Consulting®.

Publicado no perfil de linkedin em março de, reproduzido com autorização do autor e tradução e complementos entre de antónio nogueira da costa.

 

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